Título: Ponto de partida
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 01/07/2006, O GLOBO, p. 2

O candidato Geraldo Alckmin desencantou e cresceu em duas pesquisas. Lula perdeu quatro pontos na do Instituto Vox Populi e oscilou um ponto para cima na do Datafolha. Nas duas a diferença entre eles diminuiu, embora Lula mantenha as chances de ganhar no primeiro turno. Até aqui, cada qual acumulou as forças que pôde para o jogo que agora começa para valer.

Assim como os tucanos, auxiliares do presidente Lula já tinham notícias de que haveria oscilações nas pesquisas. Só não tinham explicações para a queda de Lula no Vox Populi. Acreditam, como os tucanos, que Lula sofreu o impacto do pesado ataque desferido pelo PFL com seu programa do dia 15, uma das peças eleitorais mais violentas já veiculadas em campanhas brasileiras.

Já na coligação PSDB-PFL há diferentes interpretações para a subida do tucano, embora ambas apontem para a importância da televisão na campanha. ¿Para Alckmin subir, Lula tem que cair, e para Lula cair, é preciso bater forte¿, vinham dizendo os pefelistas, e com mais desenvoltura o prefeito Cesar Maia, em sua tribuna virtual. E o PFL destinou todo o seu programa a atacar Lula, explorando os escândalos de corrupção e a relação entre o presidente e alguns protagonistas. O Ministério Público deve até provocar o TSE a examinar a legalidade do libelo televisivo. Nele não apareceram líderes do partido e mal se viu o logotipo no final. Convencidos de que o programa alterou a correlação de forças, os pefelistas vão querer mais e mais pancadaria.

¿ Bater é importante, o programa do PFL cumpriu seu papel. Mas neste momento, para conquistar eleitores e firmar a imagem do nosso candidato, o programa do PSDB foi mais importante ¿ diz o coordenador da campanha de Alckmin, Sérgio Guerra.

O programa do PSDB, veiculado no dia 22, por uma quase exigência do marqueteiro Luis Gonzáles, tratou essencialmente de apresentar o candidato, contar suas origens e sua trajetória. As pessoas, afirma Sérgio Guerra, começaram a ver que existe uma alternativa a Lula.

Seja como for, Alckmin chega a esta fase da campanha com uma boa coligação, o maior tempo de televisão, cerca de oito minutos, e com esta demonstração de que tem pique para o jogo. E agora?

¿ Agora, sebo nas canelas ¿ diz ele informando que vai intensificar o ritmo de campanha. Que a estratégia central não muda: é torná-lo mais e mais conhecido, sem deixar de bater em Lula, tarefa que o PFL certamente cumprirá com o maior prazer.

Sérgio Guerra lembra a boa posição eleitoral da coligação em São Paulo, em Minas e em pelo menos três estados do Nordeste: a Bahia de ACM, Pernambuco (do vice José Jorge) e Ceará (terra de Tasso Jereissati, presidente do PSDB).

Mas os pefelistas contrapõem: tudo estaria melhor em outros estados se os tucanos não tivessem errado tanto. No Rio, se estivessem todos unidos em torno de uma única candidatura, no caso a de Denise Frossard (PPS), apoiada por Cesar e seu grupo. No Rio Grande do Sul, se tivessem optado pelo apoio à reeleição do governador Germano Rigotto (PMDB) e não pela candidatura da deputada Yeda Crusius ao governo. No Distrito Federal, se não tivessem lançado a candidatura da governadora Maria Abadia contra a chapa pefelista José Roberto Arruda-Paulo Octávio. Mas isso agora é leite derramado.

Lula chega ao grid de largada com a menor coligação que já teve em suas disputas: PT-PRB-PCdoB. Na última hora, conseguiu manter nela o velho aliado PCdoB. Retribuiu, assegurando a vaga de candidato ao Senado, no Ceará, para o comunista Ignácio Arruda. Fica devendo esta ao ex-ministro Eunício Oliveira, que desistiu da disputa. Espera certamente um retorno ao ministério, no eventual segundo mandato. Com isso, o tempo de TV de Lula ficou menor em apenas um minuto, comparativamente ao do tucano. O presidente larga com uma vantagem ainda significativa nas pesquisas e com o maior dos benefícios, o de disputar no cargo. Mas a partir de hoje, ele que se cuide. Na primeira chance que tiverem, tucanos e pefelistas planejam pedir a impugnação de sua candidatura.

Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT) sabem o tamanho de suas dificuldades. Se crescerem, podem ajudar a garantir o segundo turno.

Agora, é jogo para valer. Como diz o cientista político Walder de Góes, na campanha brasileira, como na Copa do Mundo, chegou a hora dos grandes. ¿As delicadezas se foram. Os espíritos suaves que se acautelem. A hora é dos fortes, no futebol e na política.¿

MUITO CHIQUE: O deputado Paulo Delgado (PT-MG) foi um dos escolhidos anteontem pelo presidente francês Jacques Chirac para receber a Ordem do Mérito Nacional da França. Acima disso, só a Legião de Honra.

UM LUXO: a coligação que apóia o ex-ministro Jaques Wagner para governador da Bahia é uma das mais amplas desta eleição. Tem sete partidos (PT, PV, PSB, PMDB, PCdoB, PTB e PMN) e apoio informal do PDT. Na convenção de ontem, foi lida uma carta de Lula, agradecendo a leal ajuda de Wagner na pior das horas. Agora vem o mais difícil, enfrentar a força do carlismo.