Título: Escolas do Rio são destaque no Prova Brasil
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 01/07/2006, O País, p. 13

Unidades fluminenses, porém, também aparecem nas listas dos piores desempenhos em matemática e leitura

BRASÍLIA. Escolas do Estado do Rio de Janeiro atingiram individualmente as notas mais altas no Prova Brasil, maior teste já realizado no país com estudantes da rede pública de 4ª e 8ª série. Mas o Prova Brasil não trouxe apenas boas notícias para o Rio. Das dez notas mais baixas na 4ª série em leitura, seis são fluminenses, incluindo a pior nota: a do Ciep Professor Sylvio Gnecco de Carvalho, em Duque de Caxias, com 106,6 pontos, média classificada no nível ¿muito crítico¿. Isso indica que os alunos não foram alfabetizados adequadamente e não conseguiram sequer responder à prova.

Aplicado no ano passado, o exame avaliou a capacidade de leitura e conhecimentos de matemática. Os resultados foram anunciados ontem pelo Ministério da Educação (MEC) e mostram que, na média, o ensino brasileiro está longe de um padrão mínimo de qualidade. Mas há exceções.

Das dez melhores em leitura na 8ª série, cinco são do Rio

Dos dez melhores desempenhos do país na 8ª série em leitura, cinco são de escolas fluminenses e quatro em matemática. Das 29.831 escolas avaliadas na 4ª série, duas fluminenses fizeram dobradinha e obtiveram as melhores notas em leitura e matemática. Em Trajano de Morais, o Ciep 279 Professor Guiomar Gonçalves Neves ficou em primeiro lugar na prova de leitura, com média de 287,2 pontos, e em segundo na de matemática, com 286,5. Já o Centro Educacional Januário de Toledo Pizza, em São Sebastião do Alto, liderou o exame de matemática, com 288 pontos, ocupando o segundo lugar em português, com 266,2. A escala vai de 0 a 300 pontos.

As notas das duas escolas estaduais estão muito acima da média nacional ¿ 172,9 em leitura e 180 em matemática ¿ e do próprio Estado do Rio. Numa escala de desempenho definida em 2003 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), a pontuação das escolas está acima do nível considerado adequado, isto é, em que os alunos dominam plenamente os conhecimentos previstos para a respectiva série.

¿ O que me chama a atenção é que são cidades do interior. Talvez tenham um ambiente mais tranqüilo para o estudo ou gestores e professores excelentes ¿ disse o diretor de Avaliação da Educação Básica do Inep, Amaury Gramaud.

A média nacional de leitura na 4ª série, por exemplo, estaria classificada no nível ¿crítico¿ da escala, indicando que os alunos brasileiros só conseguem ler frases simples. Em matemática, o desempenho nacional revela conhecimentos de nível intermediário, o que significa não saber fazer contas de dividir e ter sérias dificuldades na hora de multiplicar.

No Nordeste, 86% das escolas abaixo da média

O pior é que 54% das escolas avaliadas atingiram notas abaixo da média nacional em leitura, no caso das turmas de 4ª série ¿ justamente a única média nacional classificada no nível crítico. No Nordeste, a região com piores resultados, 86% das escolas ficaram abaixo da média.

Na 8ª série a situação não é diferente. Tanto que, para especialistas, o rendimento dos alunos do último ano do ensino fundamental seria o desejável, na verdade, para quem está ainda na 4ª série.

Não é o caso do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Colégio D. Pedro II, ambos no Rio, que tiraram respectivamente a primeira e a segunda maior nota em leitura e matemática na 8ª série. Sua pontuação está bem acima do que é tido como adequado na escala de 2003. A escala de leitura vai até 350 pontos e a de matemática, até 375. As duas escolas ultrapassaram 300 pontos ¿ o Colégio de Aplicação ficou com 347 em matemática.

O Inep decidiu não adotar este ano a escala de níveis de conhecimento e discute atualmente uma revisão nos parâmetros de classificação. Os resultados das escolas estão disponíveis na internet (www.inep.gov.br). Para o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, é preciso cautela na hora de comparar os resultados das escolas:

¿ A nota de um estudante reflete o que a escola deu para ele, mas também tudo de sua vida pregressa. Ou seja, a condição da escola e da família ¿ diz Fernandes.