Título: SECA REDUZIU SAFRA EM 5,2% EM 2005
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 01/07/2006, Economia, p. 23
Produtividade da soja no Rio Grande do Sul foi a menor desde 1990
A seca que castigou o Sul do Brasil levou o país a registrar a segunda queda consecutiva na safra agrícola em 2005. Segundo a Pesquisa Agrícola Municipal, divulgada ontem pelo IBGE, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas foi de 112,69 milhões de toneladas no ano passado, quantia 5,2% inferior a de 2004. A área plantada no país chegou a crescer ligeiramente (0,15%), mas, com três anos seguidos de crise no campo, há o risco de que, em 2007, os agricultores reduzam seus investimentos.
¿ Além das perdas nas safras de 2004 e 2005, o preço da soja caiu muito. Este ano, os produtores estão descapitalizados ¿ afirmou Carlos Alfredo Barreto Guedes, analista agrícola do IBGE.
A produção de soja chegou a crescer 3,2% na média nacional no ano passado. Mas, no Rio Grande do Sul, a safra do grão foi 56% menor. A produtividade da soja no estado ¿ 654 quilos por hectare ¿ foi a menor da série histórica do IBGE, iniciada em 1990.
A safra do milho foi 15,9% menor em todo o país e a do trigo, 19,9% inferior. De 15 produtos pesquisados pelo IBGE, oito registraram queda na produção. No início de 2005, a expectativa era de que o país fosse produzir 134,91 milhões de toneladas de grão ¿ o que significa que houve uma frustração de safra de 15,5%.
Para 2006, a previsão do IBGE é de que a produção agrícola cresça 8% e chegue a 121,72 milhões de toneladas. Mesmo assim, o país ainda não voltaria ao recorde de 124,29 milhões de toneladas registrado em 2003.
Biodiesel faz produção de mamona crescer 21,1%
Enquanto os estados do Sul sofreram com a estiagem ¿ que atingiu também, em menor intensidade, Mato Grosso do Sul e Goiás ¿ Mato Grosso confirmou sua posição de maior celeiro do Brasil. Respondeu por mais de um quinto (22,4%) da produção agrícola nacional e passou ao largo da crise, inclusive diversificando suas culturas. O estado, que é líder no cultivo de soja, algodão herbáceo e girassol, já ocupa a terceira posição no ranking nacional de amendoim. O Rio Grande do Sul, por sua vez, caiu da quarta para a sexta posição na safra de soja.
Enquanto o Centro-Oeste consolida sua importância para o setor no Brasil, uma nova fronteira agrícola já aparece nas estatísticas. É a região que engloba o Oeste da Bahia e o Sul dos estados de Piauí e Maranhão. Um exemplo é o município baiano de São Desidério: sétimo no ranking de soja, líder nacional na produção de algodão e responsável pela quarta maior safra municipal de milho.
¿ Os municípios dessa nova fronteira são os que apresentam maior taxa de crescimento na produção agrícola ¿ disse Guedes, do IBGE.
Também chama atenção a rápida expansão no cultivo da mamona. A produção cresceu 21,1% no ano passado, depois de ter aumentado em 64,9% em 2004. A Bahia concentra 80% da safra nacional de mamona e abriga os dez municípios com maior produção.
Segundo o técnico do IBGE, o crescimento da mamona ocorreu graças ao programa do governo federal de incentivo ao uso do biodiesel. Mas, mesmo assim, a safra da oleaginosa ainda está longe de voltar ao seu auge. Em 1985, o Brasil chegou a produzir 416 mil toneladas de mamona, quase 2,5 vezes a safra do ano passado, que foi de 168 mil toneladas. Na época, a mamona era usada principalmente para a fabricação de óleos lubrificantes.