Título: O TÍMIDO E CONCILIADOR PAIAL
Autor: Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 02/07/2006, O País, p. 10

Menino, Alckmin brincava de cavalinho de chuchu

PINDAMONHANGABA (SP). Paial era daqueles meninos quietos, de que as professoras gostam. Boas notas, português correto. O apelido surgiu sem querer, tentativa da irmã Mimi de chamá-lo de ¿palhacinho¿. Pegou. Na escola, Geraldo Alckmin era Geraldinho, Paial, o filho do Dr. Geraldo, um veterinário conhecido por ser culto, politizado e muito religioso. Órfão de mãe ainda criança, Alckmin levou para a escola os traços da personalidade reservada do pai, dizem seus amigos.

¿ Quando eu era bebê, a Mimi não conseguia falar palhaço e falava ¿paial¿, daí ficou ¿ conta Alckmin, mostrando, orgulhoso, uma carta do pai, com muitas referências religiosas e endereçada a um Paial já adulto.

Como o Externato São José, de ensino privado, era dirigido por religiosas vindas da Alemanha, rígidas, não poderia ser diferente. Lá estudou do 1º ao 4º ano primário. Concluiu o segundo grau em escola pública, ainda em Pindamonhangaba. Segundo colegas e professores do ex-governador, as crianças eram tranqüilas, amigas e obedientes. No máximo um ou outro ¿momento de indisciplina¿, nas palavras da irmã Cecília, a professora mais antiga da ordem franciscana responsável pela escola.

¿ Até os 16 anos morei na zona rural. Ia de bicicleta para o externato. Depois, ia de Leonette (uma pequena moto) para o colégio ¿ lembra o ex-governador, que guarda poucas fotos da infância: ¿ Minha família era humilde e na minha casa nunca teve máquina fotográfica.

Embora fosse quieto, falasse baixo, Alckmin adorava contar histórias, característica que levou para a vida adulta. No pátio, as brincadeiras de cidade do interior eram bem simples: pega-pega e ¿boizinho¿, quando alguns meninos fingiam ser bois e outros tentavam laçá-los com cordões. Em casa, brincava de cavalinho de pau e, ironicamente, ¿cavalinho de chuchu¿. ¿ Você pega o chuchu, enfia quatro palitinhos e finge que é um cavalo ¿ explica Mimi, Maria Aparecida Alckmin Penteado, irmã do ex-governador.

Para o ex-governador, a memória dos tempos do externato tem gosto de ¿fruta no pé¿:

¿ A melhor lembrança daquela época são as mangueiras do pátio da escola. Sabe manga-espada? Então, eram as mangas do externato e, depois da aula, a jabuticabeira da minha avó, aquela jabuticaba de casca fina. Uma delícia.

Os amigos contam que a diversão da tarde era jogar futebol no campinho.

¿ Eu era ruim de bola, mas sempre gostei de futebol. Era bom em xadrez, mas isso já na faculdade. Meu pai era professor de xadrez, um enxadrista de primeira ¿ diz.

De perfil mais reservado, Alckmin não deu mostras na infância de que seguiria a carreira política. Aos 14 anos disse a um amigo: ¿Quero ser diplomata¿. Não foi. Aos 19, concorreu a vereador. Conciliou os estudos e a medicina com a política.

No ginásio era bom aluno em química e português, contam seus colegas. Não era o primeiro da classe, mas sempre tirava boas notas. Lembram que o primeiro da classe era Eduardinho, hoje engenheiro.

O tucano tinha espírito conciliador e detestava brigas. Quando já estava na faculdade, pôs dois amigos para fora de seu Fusca porque estavam discutindo. O pediatra José Luiz de Castro conta:

¿ Nós íamos para Taubaté, para a faculdade, de Fusca. Além de nós dois sempre ia um amigo, o Betoni. Um dia, eu e o Betoni começamos a discutir por causa de política. Alckmin parou o carro e disse: ¿Vocês querem brigar, vão brigar lá fora¿. Nós descemos, discutimos, até sobraram uns empurrõezinhos. Depois entramos no carro e fomos para a faculdade.

Quando o ex-governador assumiu uma postura mais agressiva nas críticas a seu adversário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os amigos estranharam.

¿ É, isso não combina muito com ele ¿ diz o colega Henrique Schmidt, hoje coordenador do Externato São José.