Título: DA BARREIRA NA ESTRADA DIRETAMENTE PARA O PRESÍDIO
Autor: Ana Cláudia Costa
Fonte: O Globo, 02/07/2006, Rio, p. 31

Paulista que sonhava ir à praia acabou na cadeia com pena de dez anos

A mala cheia de biquínis, cangas e filtro solar que X., de 27 anos, trouxe de Ribeirão Preto jamais chegou a seu destino. No lugar da Praia de Copacabana, a bagagem dessa paulista loura, de olhos claros e que concluiu o ensino médio foi parar em Bangu, mais especificamente no Presídio Nelson Hungria, onde ela cumpre pena de dez anos por tráfico de drogas.

Com olhos cheios de lágrimas ela contou que veio para o Rio a convite do namorado que conhecia há apenas três meses. Ele a convidou para conhecer o Rio e, segundo ela, usou-a para tentar passar desapercebido na rodovia transportando 50 quilos de maconha em um forro falso do carro. Mãe de uma menina de 8 anos, que está com a antiga patroa em São Paulo, ela contou que agora só pensa em conseguir apelar de sua condenação, já que é primária, e voltar para Ribeirão Preto para criar a filha:

¿ Meu namorado disse que me usou porque sou bonita e que eu passaria tranqüilamente pela barreira da PF. Hoje sofro muito e, ao contrário de mulheres que ganham dinheiro para trazer droga para o Rio, eu não ganhei nada. Só viajei com o namorado e queria conhecer Copacabana e o mar. Agora ele sumiu, estou aqui e nunca vi, nem de longe, o mar.

Companheira de cela de X., a paulista Y., de 21 anos, também conta no presídio os dias para terminar sua condenação de cinco anos em regime fechado por tráfico. Mesmo tendo respondido a outros processos em São Paulo e confessar que seus pais estão presos em São Paulo, ela disse que não sabia que as amigas traziam 56 quilos de maconha dentro da mala para o Rio. Ela contou que foi presa na Via Dutra em um ônibus. Vaidosa, bem vestida e com cabelos longos, ela contou que veio a pedido de uma amiga para tentar resgatar a filha de outra amiga que estaria seqüestrada:

¿ Eu estava no ônibus com mais duas amigas quando vi os policiais nos abordando e dizendo que ¿a casa caiu¿. Eu não sabia que tinha maconha na bolsa da minha amiga e não ganhei nada por isso. Hoje espero aqui a transferência para São Paulo para ficar perto da minha mãe que também está presa por roubo.

Carioca, a auxiliar de enfermagem W., de 31 anos, fez o caminho inverso. Ela conheceu o namorado presidiário através de uma sala de bate-papo por telefone. E conta que, depois de meses de envolvimento com ele, que é detento de um presídio de Niterói, foi obrigada a viajar para o Paraguai para buscar maconha e entregar a um homem na rodoviária Novo Rio. W. disse que o companheiro forçou-a a pagar as despesas da viagem e ela acabou presa na Via Dutra com 80 quilos de maconha na mala. Uma mulher contratada por traficantes de facções criminosas que mantêm intercâmbio entre Rio e São Paulo para vigiá-la também foi presa. W. disse que, por confessar tudo, já foi ameaçada de morte, mas hoje sonha com sua liberdade e em fazer a faculdade de enfermagem.

¿ Eu hoje penso e dou conselhos às jovens para que não se envolvam com bandidos. Aconselho que as mulheres obrigadas por parceiros a transportar drogas chamem a polícia. Viver nesse presídio e nesse mundo é muito triste ¿ disse W.