Título: Encruzilhada
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 02/07/2006, O GLOBO, p. 2
A saída de Roberto Rodrigues do Ministério da Agricultura envolve uma questão política relevante para o futuro da economia do país. O ministro, como seus antecessores no cargo, travou um permanente cabo-de-guerra com a área econômica para financiar o setor. Além disso, teve duros embates internos no governo Lula em defesa dos transgênicos e da expansão da fronteira agrícola.
Rodrigues e seu sucessor Luís Carlos Guedes Pinto estão no centro de uma guerra comercial e de uma disputa internacional por mercados. A competitiva agroindústria brasileira enfrenta os subsídios americanos e europeus, o controle dos preços dos insumos por empresas estrangeiras e a atuação agressiva de organizações ambientais. Os produtores rurais no Brasil ainda convivem com o preconceito. Os pioneiros americanos, que levaram as fronteiras dos Estados Unidos ao Pacífico, foram tratados como heróis na construção daquele país. Mas aqui são tratados como delinqüentes que querem depredar a natureza.
Estas circunstâncias, que precisam ser enfrentadas, se o Brasil quiser ser competitivo e auto-suficiente na produção de alimentos, uniram o presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (SP), filiado ao PCdoB, e o presidente da Comissão da Agricultura, Abelardo Lupion (PFL-PR), da bancada ruralista. Na semana passada eles decidiram organizar um ¿Simpósio em defesa do agronegócio¿. Tomaram essa iniciativa porque prevêem um recrudescimento da pressão internacional contra a expansão da fronteira agrícola brasileira.
¿ A guerra ambiental contra a agricultura brasileira ganha mais vigor com a expansão da produção na área da energia alternativa, o biodiesel e o etanol ¿ diz Aldo Rebelo.
Um dos objetivos desse simpósio é cobrar transparências das Organizações Não-governamentais (ONGs) ligadas ao meio ambiente sobre o financiamento de suas atividades. Os ruralistas estão convencidos de que não é apenas a defesa de idéias politicamente corretas que move essas ONGs. E, por isso, apóiam a instalação de uma CPI, proposta pelo deputado Alberto Fraga (PFL-DF), para investigar a origem dos recursos que financiam a ação das ONGs no país.
¿ Essas organizações atuam para inviabilizar setores da economia. São contra o uso de transgênicos, contra a ampliação da fronteira agrícola, contra a construção de novas hidroelétricas e agora contra novas indústrias de papel e celulose. São contra tudo o que o Brasil é competitivo. Quem financia isso? ¿ pergunta Abelardo Lupion.
Para essas forças políticas, só a riqueza vai viabilizar a proteção do meio ambiente, pois o desenvolvimento não é incompatível com a proteção à natureza.