Título: POLÍCIA PRENDE 14 SUSPEITOS DE ATAQUES EM SP
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 03/07/2006, O País, p. 8

Agentes penitenciários tentaram proibir visitas em presídios em protesto contra as mortes de três colegas

SÃO PAULO. A polícia prendeu ontem em Peruíbe, litoral paulista, 14 pessoas suspeitas de serem ligadas à facção criminosa responsável pelos atentados que, em maio, resultaram em mais 150 mortes no estado de São Paulo. Alegando que teriam informações sobre possíveis novos ataques a bases militares, a polícia prendeu o grupo em 12 blitzes realizadas em rodovias que dão acesso à cidade. Nenhuma arma foi apreendida.

Ainda segundo a polícia, a quadrilha planejava os possíveis atentados numa chácara da região. As informações teriam sido obtidas com a ajuda de agentes infiltrados entre criminosos e delatores.

¿ Alguns presos estavam sendo procurados porque teriam participado de ataques em São Paulo ¿ disse ontem o chefe da Polícia Judiciária do Interior (Deinter), delegado Everardo Tanganelli.

Segundo o comandante do Policiamento de Choque, coronel Joviano Conceição Lima, o grupo vinha articulando ações contra a polícia ao longo da semana e pretendia partir para o ataque a partir de ontem.

¿ Tivemos de agir com rapidez e grande infra-estrutura para evitar essa ação que vinha sendo planejada há dias ¿ disse o coronel.

Helicóptero, 66 carros, 22 motos e 230 homens

A operação envolveu 230 homens, um helicóptero, 66 carros e 22 motocicletas.

Na semana passada, 13 pessoas que teriam ligação com a organização foram mortas enquanto se preparavam para atirar contra agentes penitenciários em frente ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de São Bernardo do Campo.

Enquanto a polícia agia no litoral, em São Paulo o clima era de tensão nas penitenciárias. Com a crise iniciada com a morte de três agentes penitenciários nos últimos quatro dias, o sindicato da categoria cogitava uma greve. A idéia era proibir visitas ontem.

A paralisação, porém, atingiu apenas o complexo penitenciário de Belém1 e Belém 2, na Zona Leste. O diretor do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional, Luiz Carlos Camilo, esteve ontem no CDP da Vila Independência.

¿ A rebelião só não aconteceu aqui porque as visitas não foram proibidas ¿ disse.

Hoje os agentes se reúnem para decidir se entrarão em greve. A situação se complicou depois que o agente Eduardo Rodrigues, de 41 anos, foi assassinado no sábado dentro da loja onde tentava conservar um aparelho de TV. Dois criminosos entraram, dispararam quatro tiros contra Rodrigues e fugiram.

Dois agentes penitenciários mortos na semana passada

Na semana passada, os agentes penitenciários Nilton Celestino e Gilmar Francisco da Silva foram assassinados em emboscadas. No fim de semana, a polícia prendeu Fábio dos Santos Moreira, de 26 anos, suspeito de participar da morte de Celestino. Moreira estava com uma submetralhadora e uma espingarda.

Depois das mortes, os agentes passaram a reivindicar a contratação de mais profissionais e melhoria na infra-estrutura das penitenciárias. Na média, cada agente penitenciário é responsável pela segurança de 50 presos no estado.

O governador de São Paulo, Claudio Lembo (PFL), lamentou as mortes dos agentes. Disse que a polícia está agindo para prender os criminosos e evitar novos ataques. O governador disse ainda que não acredita na greve dos agentes em protesto contra as mortes. O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, afirmou que a polícia está preparada para fazer a segurança nos presídios em caso de greve. Disse ainda que a crise na segurança enfrentada hoje em São Paulo é resultado da ação do Estado, que não foi tão rígido com os criminosos.