Título: SUBCOMANDANTE MARCOS LIDERA PASSEATA
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 03/07/2006, O Mundo, p. 17

Zapatistas pedem libertação de presos e boicote ao pleito

CIDADE DO MÉXICO. As autoridades federais imaginavam que o líder do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), subcomandante Marcos, fosse permanecer em Chiapas. Mas ele surgiu ontem às 11h em frente ao monumento Anjo da Independência, no centro novo da capital mexicana, para liderar uma marcha de dissidentes até o Zócalo ¿ a enorme praça no coração do centro histórico ¿ interrompendo por mais de uma hora o tráfego no Passeio da Reforma, a principal via da cidade.

Doze anos depois de entrar em cena com uma surpreendente ação armada, à frente de um exército mambembe de indígenas em Chiapas, o estado mais pobre do país, e de posteriores conflitos bélicos, Marcos diz ter deixado as armas para se dedicar a uma coligação de 262 organizações sociais, 136 grupos indígenas e 72 pequenas organizações políticas radicais de esquerda, denominada A Outra Campanha.

¿ A perspectiva é de que a entidade se transforme numa organização como o Movimento dos Sem-Terra do Brasil, para lutar por melhores condições de vida, e mesmo sem apresentar candidatos políticos próprios ter uma forte influência em futuras eleições ¿ afirmou Alejandro Cruz, de 35 anos, professor de ensino secundário na Cidade do México e militante do EZLN.

A manifestação de ontem era pela libertação de presos políticos e, ao mesmo tempo, um boicote à eleição presidencial. Marcos incitou os mexicanos a não votarem ou a anularem o voto. Segundo ele, os três grandes partidos políticos só se importam com o povo na hora de pedir votos.

¿ Ao contrário do que dizem, não há paz nem tranqüilidade no país porque aqui ainda não há liberdade nem justiça ¿ disse o subcomandante, sobre um palanque, ao final da marcha, dirigindo-se a uma multidão calculada em pouco mais de 20 mil pessoas.

¿Nem PRI, nem PAN, nem PRD: o povo unido contra o poder¿, gritaram os manifestantes em coro ao longo da marcha. Na praça, surgiu outro lema: ¿O povo unido avança sem partido.¿ Marcos, no entanto, permaneceu calado durante toda a marcha, evitando sequer dar entrevistas. (José Meirelles Passos)