Título: MÉXICO TENSO ESCOLHE NOVO PRESIDENTE
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 03/07/2006, O Mundo, p. 17

Disputa é a mais apertada da história do país. Autoridades temem distúrbios

Os mexicanos votaram ontem em clima de tensão para escolher um novo presidente na eleição mais apertada da história do país. A disputa entre os dois principais candidatos era tão acirrada que nem pesquisas de boca-de-urna se atreveram a indicar se o vitorioso seria Felipe Calderón, do Partido Ação Nacional (PAN), do atual governo conservador, ou Andrés Manuel López Obrador, do Partido Revolucionário Democrático (PRD), de esquerda. Os primeiros resultados parciais (20,2% das 130.488 das mesas eleitorais) deram 38,8% de votos para Calderón e 35,% para Obrador, mas a vitória do candidato conservador não estava garantida, porque os resultados oscilavam freqüentemente.

Os mexicanos esperaram aflitos por um comunicado do Instituto Federal Eleitoral (IFE). Às 23h (1h de hoje em Brasília), Luís Carlos Ugalde, presidente do IFE, anunciou:

¿ A margem é muito estreita. Não é possível, neste momento, indicar um ganhador. Isto significa que teremos que esperar toda a contagem dos votos.

Temiam-se manifestações de protesto violentas dos eleitores do perdedor. A tradição de fraudes e compras de votos, ao longo de pouco mais de sete décadas, permanece sendo um centro nervoso de desconfianças generalizadas. E como nas eleições mexicanas não há segundo turno, a expectativa era grande. Por isso mesmo, o IFE divulgou uma nota alertando que se as cifras mostrassem um resultado muito apertado, aguardaria mais tempo para anunciá-lo. Foi o que acabou acontecendo.

O presidente do IFE pediu insistentemente a candidatos e partidos para não se autoproclamarem vencedores e não anunciarem ou realizarem comemorações antecipadas antes da divulgação da amostragem oficial. Apesar disso, o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), Roberto Madrazo, ao qual as pesquisas mais recentes davam um distante terceiro lugar, fez uma declaração polêmica logo nas primeiras horas da manhã: disse que as eleições não foram limpas e que desconfiava totalmente da Procuradoria Especial para a Atenção a Delitos Eleitorais, à qual caberia aceitar e averiguar denúncias de fraudes e outras irregularidades.

¿ A eleição não foi limpa porque o governo a manchou por desigualdade. Esperamos que o eleitor a limpe com sua força, com seu voto, que é o único que pode corrigir o rumo desse processo ¿ disse ele, referindo-se ao fato de o presidente Vicente Fox ter feito publicidade de conquistas de seu governo, beneficiando assim o candidato governista.

Calderón ¿ que pesquisas antes da votação apontavam como segundo colocado, apenas dois pontos percentuais abaixo de López Obrador ¿ acatou a orientação do IFE e sequer falou em prognósticos:

¿ Digo apenas que se eu vencer, o México vai reassumir a liderança que lhe corresponde na América Latina e no mundo.

López Obrador, por sua vez, foi ainda mais reticente:

¿ Quero apenas agradecer aos meios de comunicações por seu trabalho durante a campanha. Não farei comentários enquanto as pessoas ainda estão indo votar, porque não quero dar margem a más interpretações.

Apesar de Ugalde, o presidente do IFE, ter declarado que havia tranqüilidade e total lisura na votação em todo o país, a entidade divulgou à tarde que já haviam sido registrados 1.152 incidentes. Estes, no entanto, foram classificados como ¿problemas menores¿. Boa parte teria a ver com a falta de cédulas em centenas de locais de votação. O argumento das autoridades foi de que muita gente mudou de residência sem avisar e, por isso, não havia cédulas suficientes.

Na capital, o presidente do PAN local, Carlos Gelista, denunciou pressões de representantes de outros partidos sobre eleitores nas filas de votação. Segundo ele, além disso o PRD estaria levando eleitores em ônibus para votar. Já o PRI na capital anunciou que planejava pedir a anulação da votação, se fossem comprovadas denúncias de que militantes do PAN e do PRD estariam comprando votos. Cinco pessoas, aparentemente ligadas ao PAN, foram presas por distribuírem cestas básicas num bairro da capital.

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