Título: EXPORTAÇÃO SURPREENDEU EM JUNHO, MAS SUPERÁVIT NO SEMESTRE ENCOLHEU
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 04/07/2006, Economia, p. 23

De janeiro a junho, importações subiram 21,6% e vendas externas, 13,5%

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Com a liberação dos embarques represados devido ao fim da greve dos fiscais da Receita, as exportações surpreenderam na semana passada e fecharam o mês em US$11,435 bilhões ¿ o melhor resultado para junho, com média diária de US$544,5 milhões, praticamente o mesmo volume recorde de abril. O embarque de petróleo, minério-de-ferro e soja em grãos para a China também ajudou o Brasil a eliminar seguidos déficits com os chineses e registrar superávit em junho. No período, as importações somaram US$7,353 bilhões ¿ com média diária igualmente histórica, de US$350,1 milhões ¿ o que fez o comércio exterior ter saldo de US$4,082 bilhões.

Mesmo assim, a balança comercial do semestre, que acumulou superávit de US$19,541 bilhões (US$113 milhões a menos do que o mesmo período de 2005), reforçou a tendência de crescimento das importações acima das exportações. Enquanto os embarques cresceram 13,5% entre janeiro e junho, totalizando US$60,901 bilhões, as compras subiram 21,6% e chegaram a US$41,360 bilhões.

O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Armando Meziat, disse que o governo já trabalha na revisão da meta fixada para o ano de US$132 bilhões em exportações. Na avaliação do mercado, o valor deverá cair por dois fatores. Primeiro, o câmbio valorizado, que incentiva as importações e, segundo, porque seria necessário repetir a média diária de vendas ao exterior acima de US$500 milhões (o que aconteceu só em abril e junho) durante os meses restantes.

¿ As exportações em junho surpreenderam os analistas, que esperavam US$11 bilhões no máximo. Mas é uma questão pontual, não conseguimos enxergar que o ritmo será mantido por causa do câmbio e da demanda mundial, que não justifica uma média diária acima de US$500 milhões ¿ avaliou José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Segundo Meziat, a meta de superávit da balança comercial deverá ser mantida em US$40 bilhões no ano. Porém, frisou, a tendência de crescimento das importações, sobretudo de bens de capital, matérias-primas e componentes para indústria, é um sinal de crescimento da economia.

Levantamento do Ministério mostra, no entanto, que as compras externas de bens de consumo em junho superaram as de junho de 2005 em 36,5% ¿ acima de bens de capital (21,9%) e matérias-primas (9,3%). Só as importações de carro cresceram 173,7%.

Furlan: saldo do ano deve ficar em US$40 bilhões

Em São Paulo, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse que vai analisar os dados da balança para eventualmente rever as metas. Mas adiantou que o saldo deve ficar ¿ao redor de US$40 bilhões¿, menos do que os US$44 bilhões de 2005. Para Furlan, o resultado surpreendente de junho decorre de um esforço das empresas para turbinar seus balanços no período.