Título: AMÉRICA LATINA É A REGIÃO MAIS LENTA NA META DE REDUZIR POBREZA EXTREMA
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 04/07/2006, Economia, p. 23

ONU diz que, de 90 a 2002, proporção de pobres caiu de 11,3% para 8,9%

RIO e GENEBRA. A América Latina é a região do planeta que mais lentamente avança no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, o conjunto de ações que 191 países ¿ entre eles, o Brasil ¿ se comprometeram a realizar para melhorar as condições de vida de seus habitantes até 2015. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), que ontem divulgou relatório especial sobre o tema, o principal atraso latino-americano é na meta de redução da pobreza extrema.

Pelo acordo firmado com a ONU, entre outros objetivos, os países estão obrigados a reduzir à metade entre 1990 e 2015 a proporção de pessoas vivendo com menos de US$1 por dia. Na América Latina, o percentual está caindo. Só que mais lentamente do que nas demais regiões do mundo. Entre 1990 e 2002, a proporção dos extremamente pobres caiu de 11,3% para 8,9%. No mesmo período, o Sudeste da Ásia viu a pobreza recuar de 19,6% para 7,3%, resultado que já supera a meta estabelecida pela ONU.

¿Desigualdade estrutural¿ atrapalha região, diz ONU

Segundo o relatório, em 1990 27,9% da população dos países em desenvolvimento (cerca de 1,2 bilhão de pessoas) viviam em extrema pobreza em 1990. Em 2002, a proporção caíra para 19,4%. Significa dizer que quase 250 milhões de habitantes deixaram a antiga condição. Por isso, o estudo afirma que, mantido o ritmo, o mundo em desenvolvimento, em conjunto, conseguiria reduzir a pobreza à metade até 2015.

¿ Já a América Latina está cumprindo menos bem a meta ¿ completou o subsecretário geral da ONU, Mark Malloch Brown, que apresentou o relatório em Genebra.

No Brasil, segundo estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), de 1991 a 2000, a extrema pobreza caiu de 20,24% para 16,31% da população. Segundo o estudo, mantido mesmo ritmo de redução, até 2015, a indigência cairia 34,8%. O relatório de ontem trouxe informações consolidadas por regiões, mas omitiu os dados por países.

Brown disse que, na América Latina, observou-se ¿uma sorte de frustrações em relação às lideranças políticas e às instituições internacionais¿. O descontentamento foi conseqüência das reformas econômicas que ¿não provocaram melhorias notáveis nas condições de vida das pessoas, como ocorreu na Ásia¿:

¿ A isso se soma o nível de desigualdade estrutural tão alto, que boa parte do crescimento permanece nas elites nacionais.

O relatório informou ainda que a proporção de pessoas que passam fome na América Latina caiu de 13% para 10% entre 1990 e 2003. Já a mortalidade infantil saiu de 54 por mil nascidos vivos para 31. A região, e também o mundo, tem avançado no acesso à educação primária, que saltou de 86% para 95% das crianças.

(*) Com agências internacionais