Título: PROCURADOR: MÁFIA DOS SANGUESSUGAS DESVIOU TAMBÉM VERBAS DA EDUCAÇÃO
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 05/07/2006, O País, p. 5

Vedoin, acusado de chefiar o esquema, faz acordo de delação premiada

BRASÍLIA. O procurador da República Mário Lúcio Avelar afirmou ontem à CPI dos Sanguessugas que a organização acusada de vender ambulâncias e unidades digitais superfaturadas também desviou verbas reservadas pelo Ministério da Educação (MEC) para compra de ônibus escolares.

Segundo o procurador, cerca de 60 parlamentares estão envolvidos só com as fraudes para as compras de ambulâncias com dinheiro do Ministério da Saúde, e de unidades digitais com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia. Ele e o delegado da Polícia Federal Tardelli Boaventura prestaram depoimento à CPI em sessão reservada.

- Pelo que pudemos ver, o mesmo esquema de fraudes foi reproduzido também para as vendas superfaturadas de ônibus escolares e de unidades digitais - disse Avelar.

Deputados pedem ampliação do foco da CPI

As investigações da CPI podem ser facilitadas a partir de hoje. O empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin, apontado pela PF como um dos chefes da quadrilha, prestou um depoimento bombástico ao juiz Jeferson Schneider, da 2ª Vara da Justiça Federal de Mato Grosso. Depois de pedir os benefícios da delação premiada, Luiz Antônio decidiu contar detalhes do envolvimento de parlamentares com a máfia das ambulâncias.

Segundo a PF, o empresário, filho de Darci José Vedoin, era um dos três chefes da organização encarregados de fazer os pagamentos de propinas aos parlamentares. Darci Vedoin é dono da Planam, empresa usada no esquema fraudulento para desviar as verbas públicas. O depoimento de Luiz Antônio começou segunda-feira e só deve terminar hoje, o que pode adiar a sua ida à CPI, prevista para esta manhã.

Os detalhes das investigações, apresentados na CPI por Avelar e por Boaventura, deixaram integrantes da comissão estarrecidos com a abrangência da atuação da máfia. Os deputados Raul Jungmann (PPS-PE) e Tarcísio Delgado (PSB-MG) pediram a ampliação do alvo da CPI, criada para investigar somente fraudes com dinheiro do Ministério da Saúde. Para eles, tornou-se imprescindível a devassa sobre o uso do Fundo Nacional de Educação para compra de ônibus escolares.

Para Jungmann e Delgado, é importante o aprofundamento das investigações sobre a liberação de recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia para compra de ônibus equipados com computadores, as unidades digitais do programa de inclusão digital.

- Se não pudermos apurar com os instrumentos de que dispomos, teremos de mudar o requerimento original da CPI e ampliar o foco. Estamos diante de um mega-escândalo. Essa é a maior tragédia do Congresso - afirmou Jungmann.

Avelar disse que descobriu indícios de envolvimento dos sanguessugas com a compra de ônibus escolares depois de vasculhar documentos da contabilidade da Planam apreendidos em maio pela PF. Segundo Avelar, a quadrilha também fraudou licitações para vender ônibus escolares com preços acima de mercado.