Título: ALVO DE INQUÉRITOS, FILIPPI É CONFIRMADO PELO PT
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 05/07/2006, O País, p. 8

Tesoureiro da campanha de Lula à reeleição foi condenado a pagar multa de R$183 mil por ceder outdoors à CUT

[SÃO PAULO e BRASÍLIA.O prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior (PT), escolhido para tesoureiro da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, é alvo de inquéritos que investigam irregularidades na sua gestão, mas mesmo assim licenciou-se do cargo ontem e teve seu nome confirmado pela direção nacional do PT. Na última quinta-feira, segundo reportagem de ontem do "Estado de S.Paulo", foi instaurado inquérito pelo promotor Fernando Belaz para averiguar o pagamento de multa de R$183 mil feito por Filippi em 2003 para se livrar de um bloqueio de bens determinado pela Justiça.

Filippi foi condenado a ressarcir os cofres públicos por ter autorizado que a prefeitura cedesse outdoors para a CUT celebrar o Dia do Trabalho. O Ministério Público questiona a origem dos R$183 mil, já que quando os bens foram bloqueados, em 2003, seu patrimônio era de apenas R$30 mil. A CUT afirmou não ter pago o valor.

Filippi se licenciou do cargo por 90 dias, contados a partir de ontem, para assumir a função de tesoureiro de campanha. Em seu lugar assume o também petista Joel Fonseca da Costa. O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, confirmou ontem, em Brasília, que a escolha de Filippi será mantida.

Contratos também sob suspeita

A Prefeitura de Diadema disse que Filippi vai explicar o caso em entrevista coletiva, hoje, em Brasília. O prefeito tem até a semana que vem para enviar uma explicação ao MP. O promotor que substituiu Belaz no caso, Marcelo Santos Nunes, disse que vai manter o inquérito em sigilo.

- Existem dados pessoais que no meu entender devem permanecer em sigilo - disse o promotor.

Além disso, Filippi teve uma série de ações contestadas pelo Tribunal de Contas do Estado. Uma delas é a contratação do Instituto de Organização Racional do Trabalho (Idort). Dois contratos foram considerados irregulares por ausência de licitação. O valor total é de R$5,7 milhões.

Especializado em assessorias para prefeituras na área de arrecadação, o Idort foi alvo de uma CPI da Câmara Municipal de Ribeirão Preto durante a primeira gestão do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (1993-1996) por também ter sido contratado sem licitação por R$2 milhões. O contrato gerou um prejuízo à prefeitura de R$8 milhões na privatização da Centrais Telefônicas de Ribeirão Preto (Ceterp).

O TCE também emitiu pareceres desfavoráveis às prestações de contas da Prefeitura de Diadema em 2001, 2002 e 2003. O motivo é a não aplicação do total de recursos previstos em lei para a área da educação.

Além disso, o Ministério Público moveu uma ação civil pública contra a prefeitura pela contratação por 13 anos, sem licitação, do advogado e deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). O contrato foi iniciado na gestão de Gilson Menezes (1982-1988, hoje no PCdoB), passou pela de José Augusto Ramos (1989-1992, hoje no PSDB) e só terminou na gestão de Filippi. Segundo o Ministério Público, entre 1990 e 1996 Greenhalgh e sua ex-sócia Michael Mary Nolan receberam R$2,1 milhões. A prefeitura ganhou a ação em primeira instância, mas o Ministério Público vai recorrer.

- Este assunto só está em relevo porque o Filippi foi escolhido tesoureiro do Lula. A sentença julgou totalmente improcedente a denúncia - disse Greenhalgh.

Berzoini também defendeu Filippi na denúncia sobre a contratação do escritório de Greenhalgh.

- Tenho absoluta certeza de que ele agiu na legalidade e no interesse público, pelo que conheço de toda a atuação dele - disse o presidente do PT.

Filippi está em seu terceiro mandato à frente da Prefeitura de Diadema. Integrante do novo grupo político de Lula, ele foi escolhido como tesoureiro pelo próprio presidente por, entre outros motivos, ter a "ficha limpa".

O operador do mensalão

O petista José de Filippi Júnior foi escolhido para ser o tesoureiro da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois do escândalo do mensalão. O caso, que provocou a denúncia de 40 integrantes do PT e do governo ao Supremo Tribunal Federal por integrarem uma "organização criminosa" de distribuição de dinheiro a aliados, também levou à expulsão do PT do tesoureiro da campanha eleitoral de 2002, Delúbio Soares. Ele é acusado, juntamente com o empresário Marcos Valério de Souza e outros petistas, de ter comandado o esquema do mensalão.

Delúbio nega o mensalão, alegando que o que houve foi caixa dois, ou "recursos não contabilizados", um crime eleitoral.

Com sua expulsão, o PT escolheu Paulo Ferreira para secretário de Finanças do partido e José de Filippi Júnior para tesoureiro da campanha, separando as duas funções. Em 2002, Delúbio acumulara as duas tarefas.

COLABORARAM Luiza Damé e Cristiane Jungblut