Título: CONGRESSO RECEBE AGORA MANIFESTO PRÓ-COTAS
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 05/07/2006, O País, p. 13

Documento entregue a Renan e Aldo foi reação a texto assinado por 114 intelectuais contra reserva de vagas

BRASÍLIA.Intelectuais e ativistas de movimentos negros favoráveis às cotas raciais no ensino superior, no serviço público e no mercado de trabalho foram ontem ao Congresso entregar manifesto em defesa da aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e do projeto de reserva de vagas nas universidades federais. O documento é uma reação ao manifesto contra cotas assinado por 114 intelectuais, levado ao Congresso semana passada.

O diretor-executivo da Educafro, rede de cursos pré-vestibulares para estudantes negros e de escolas públicas, frei David dos Santos, criticou os autores do manifesto contra as cotas, chamando-os de neocolonizadores.

- São intelectuais que se formaram com dinheiro público e querem continuar pisando no negro (...) A elite burguesa é podre quando não sabe compartilhar - disse frei David.

Com o título "Manifesto em favor da Lei de Cotas e do Estatuto da Igualdade Racial", o texto contava ontem com 421 assinaturas, entre elas a do jurista e professor da Universidade de São Paulo (USP) Fábio Konder Comparato, a do ator Paulo Betti, a do ex-senador Abdias do Nascimento, a do diretor de teatro Augusto Boal e a do sociólogo Emir Sader. Outros 152 estudantes e profissionais liberais apóiam a iniciativa.

Ações concretas e não declarações

Frei David, que entregou o manifesto aos presidentes da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que as cotas para alunos da rede pública, negros e índios já são realidade em mais de mil instituições particulares que aderiram ao programa Universidade para Todos (ProUni).

- E não teve uma linha de intelectual reclamando. Agora que a proposta atinge a universidade pública, eles reclamam. O problema é econômico. Eles sabem que as cotas nas instituições públicas tiram vagas de seus filhos - disse frei David.

Para o professor de ensino médio e coordenador de cursos pré-vestibulares para negros e carentes do Rio de Janeiro, Alexandre do Nascimento, os argumentos dos que são contra as cotas - para quem a iniciativa viola o princípio de igualdade e pode acirrar o racismo no Brasil - são equivocados.

- A verdadeira igualdade vai ser conseguida com políticas concretas e não com a declaração formal de que somos iguais perante a lei.

O manifesto pró-cotas diz que 45,6% da população brasileira é afro-descendente, mas nem 1% dos professores das universidades públicas são negros. "Mesmo nos dias do apartheid, os negros da África do Sul contavam com uma escolaridade média maior que a dos negros no Brasil no ano 2000", diz o texto.

"Eles (contrários à reserva de vagas) sabem que as cotas tiram vagas de seus filhos"

FREI DAVID

Diretor-executivo da Educafro

"A igualdade vai ser conseguida com políticas e não com a declaração de que somos iguais"

ALEXANDRE DO NASCIMENTO

Coordenador de cursos pré-vestibulares para negros e carentes