Título: Empresários venezuelanos estão preocupados com a entrada no bloco
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Fonte: O Globo, 05/07/2006, Economia, p. 25

Eles defendem a adoção de mecanismos de proteção e adiamento

CARACAS e BRASÍLIA. Os empresários da Venezuela, da indústria e do campo, estão reagindo com cautela e temor à decisão do presidente Hugo Chávez de ingressar no Mercosul. Eles chegam a defender que seja acionado um mecanismo de proteção e benefícios às economias de menor grau de desenvolvimento do bloco e que seja dado um prazo maior para que a integração plena seja concretizada. O motivo é um só: o gigantismo das economias brasileira e argentina.

- Os industriais estão preocupados com as assimetrias existentes com Argentina e Brasil. O tamanho da produção do Brasil é pelo menos dez vezes maior do que a nossa - afirmou o diretor da entidade Conindustria, Silvano Gelleni.

A Fedecameras, entidade que convocou referendo em 2004 para tentar reduzir o mandato de Chávez, reclama que o setor produtivo não está sendo consultado. Seu presidente, José Luiz Betancourt, declarou ao jornal "El Universal" que as decisões de governo não podem estar dissociadas da iniciativa privada, pois esta é que fará possível qualquer processo de integração:

- Com esta decisão (de ingressar no Mercosul) os setores mais afetados são medicamentos, agropecuária e laboratórios internacionais. Os setores mais adaptáveis são o automotriz, laboratórios nacionais, plásticos, autopeças e metal-mecânico. Temos que fazer um grande consenso nacional para determinar que tipo de integração queremos.

O setor empresarial - que acusa Chávez de querer entregar o setor produtivo do país ao neoliberalismo selvagem - quer que seu país invoque o Tratado Especial e Diferenciado, usado no âmbito internacional, para proteger os setores sensíveis, que são muitos em sua avaliação. Eles temem uma invasão de produtos brasileiros, argentinos e até mesmo uruguaios, como no caso de laticínios.

O ex-presidente da entidade Fedeagro José Manuel González disse que o setor primário venezuelano não está preparado para competir em igualdade de condições com o Mercosul.

Mas o ministro da Integração e presidente do Banco de Comércio Exterior da Venezuela, Gustavo Marquez Marín, garante que nã há razão para tantos temores e alega que o protocolo assinado com o Mercosul compromete o Brasil e a Argentina a abrirem por completo suas barreiras alfandegárias com a Venezuela a partir de 2010. Mas os empresários cobram a adoção de políticas para suportar a competição.