Título: É PRECISO RESTAURAR A ÉTICA, DIZEM ESPECIALISTAS
Autor: Paula Autran/Cláudia Lamego/Flávio Freire
Fonte: O Globo, 06/07/2006, O País, p. 8

Candidatos à Presidência também têm o desafio de apresentar propostas concretas para o crescimento do país

RIO e SÃO PAULO. Ao saírem às ruas hoje, primeiro dia oficial de campanha, os candidatos à Presidência da República precisarão de muita disposição. Para conquistar os votos do eleitores, serão necessários mais do que apertos de mão e sorrisos, segundo especialistas. Um dos maiores desafios será convencer os brasileiros de que serão capazes de restaurar a ética e a credibilidade da classe política, abalada pelas sucessivas crises envolvendo o Executivo e o Congresso, como os escândalos do mensalão, do caixa dois e, recentemente, da máfia dos sanguessugas. Além disso, eles precisarão mostrar que têm propostas para manter a estabilidade da economia e, ao mesmo tempo, investir no crescimento do país.

- O principal desafio dos candidatos é manter as condições positivas, como a estabilidade econômica e os níveis de inflação baixos, mas procurar taxas de crescimentos menos medíocres que as dos últimos tempos. Além disso, é preciso restaurar a credibilidade na ética da política e dos políticos. A credibilidade está no chão. É um desafio também restaurar a confiança do cidadão no Estado - afirma a cientista política Lúcia Hipólito.

- Apresentar propostas convincentes para resolver problemas com a trindade emprego, saúde e educação continua a ser o principal desafio de todos os candidatos à Presidência. E, naturalmente, a contenção do aumento da criminalidade é também uma questão a ser enfrentada. Como será um grande desafio construir uma base parlamentar sólida e trabalhar pela moralização da classe política - diz a historiadora Isabel Lustosa.

Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de se desviar das acusações de corrupção em seu governo, o tucano Geraldo Alckmin precisará de muito empenho para criar identidade com o eleitorado de baixa renda. Ao mesmo tempo, a senadora Heloísa Helena, do PSOL, terá de dosar o discurso apaixonado contra o governo com idéias claras sobre suas propostas, assim como o senador Cristovam Buarque, do PDT, terá de expandir seus projetos políticos para além dos limites acadêmicos.

"O principal desafio do Lula é o seu próprio partido"

Com a previsão de um clima bélico entre os candidatos, especialistas dizem acreditar que o eleitor estará atento se o candidato superou traumas do passado e se está pronto para a corrida de obstáculo em que deve se transformar a disputa eleitoral deste ano.

- O principal desafio de Lula é o seu próprio partido. O PT tem procurado definir um padrão doutrinário que não bate mais com o do Lula - analisa o professor de Ética e Filosofia da Unicamp Roberto Romano.

Já Geraldo Alckmin, segundo o professor Ricardo Ismael, do Departamento de Sociologia e Ciência Política da PUC-Rio, terá que sensibilizar o eleitorado de mais baixa renda, principalmente o do Nordeste:

- Ele vai ter que mostrar que tem algo a acrescentar ao que Lula já faz pelos pobres. É essencial que consiga penetrar no Nordeste. O tucano precisa ainda unir o PFL e o PSDB, já que o favoritismo do presidente está levando alguns candidatos de oposição a apoiar o petista.

Política de alianças favorece exposição na TV

Nesses próximos meses, segundo os especialistas, quem mais articulou em torno de alianças terá vantagem por causa do tempo de TV.

- Em termos de estrutura de alianças, o Lula ficou para trás e só o apoio do PCdoB e do PRB o deixa num patamar abaixo do de Alckmin, por exemplo - diz o cientista político Fernando Abrúcio, da Fundação Getúlio Vargas.

Para ele, mesmo na lanterninha das pesquisas de intenção de voto, Heloísa Helena e Cristovam Buarque precisam ampliar seus projetos de governo e ficar atentos ao que o eleitor espera deles:

- Cristovam aparece como o candidato da educação, mas essa é a sua única bandeira por enquanto. Já a Heloísa Helena é de um partido fraco, não tem tempo de exposição na TV e pode apresentar idéias radicais que criam resistência no eleitorado.

De opinião semelhante, o diretor do Centro Brasileiro de Pesquisa e Planejamento, Rubens Figueiredo, diz que os candidatos precisam tomar cuidado com promessas fantasiosas:

- Para se tornar conhecido, Cristovam pode cometer o erro de virar um candidato folclórico, já que por ter pouco tempo na TV pode apresentar propostas mirabolantes.

Cristovam e Heloísa enfrentarão ainda a falta de estrutura partidária, o que conta muito numa campanha nacional.

- O fato de pertencer ao PDT é um ponto positivo para Cristóvam por se tratar de um partido histórico. Mas também é negativo, uma vez que após a morte de sua grande liderança, o ex-governador Brizola, o partido foi esvaziado. Já Heloísa Helena está num partido inexpressivo em termos nacionais, sem capilaridade - diz a cientista política Alessandra Aldé, do Iuperj.

A trajetória administrativa dos candidatos também será colocada em xeque:

- A segurança pública de São Paulo será bastante explorada, e não adianta Alckmin dizer que o problema é do governo federal - diz Abrucio.

INCLUI QUADRO: PONTOS FORTES E FRACOS [LULA, ALCKMIN, HELOÍSA HELENA E CRISTOVAM BUARQUE]