Título: MERCADO INTERNO PUXA CRESCIMENTO DA ECONOMIA BRASILEIRA, MOSTRA CNI
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 06/07/2006, Economia, p. 25

Empresários apostam em cenário duradouro e começam a contratar

BRASÍLIA. Pela primeira vez em quatro anos a economia brasileira está sendo puxada pelo fortalecimento do consumo interno. A atividade industrial, que desde 2002 tinha como locomotiva a demanda internacional, dando vigor às exportações brasileiras, agora se alimenta do mercado doméstico. Para os empresários, este cenário de expansão, já registrado pelo IBGE no primeiro trimestre, será duradouro e, por isso, não só estão aumentando as horas trabalhadas como estão contratando funcionários.

A constatação é da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que se baseia nos indicadores industriais de maio, todos positivos em comparação ao mês anterior:

- É uma surpresa para nós, porque normalmente há uma defasagem de seis meses entre o crescimento das horas trabalhadas e as contratações. Trata-se da melhor sinalização de que os empresários estão confiantes de que o crescimento não é uma bolha - afirmou Paulo Mol, economista da entidade.

Apesar disso, ritmo das exportações continua bom

De acordo com a CNI, em maio as vendas da indústria aumentaram 0,73% frente a abril deste ano. A alta foi mais expressiva, se comparada a maio de 2005: 4,55%. As horas trabalhadas subiram 1,19% em relação a abril e 2,62% sobre maio de 2005. O emprego industrial cresceu 0,46% frente a abril e 1,45% em comparação a maio de 2005. Já o nível de utilização da capacidade foi de 81,3%, contra 81% no mês anterior.

- Com os estoques ajustados, a indústria terá de produzir para atender o aumento da demanda - disse o economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco.

Para os economistas da CNI, o bom desempenho reflete o aumento da massa real de salários, com queda da inflação e crescimento do emprego; a aplicação de recursos públicos na economia, como o reajuste do salário-mínimo e programas de transferência de renda; a queda dos juros, que incrementou o crédito; e a desvalorização do real frente ao dólar em maio, de 2,3%, que garantiu maior rentabilidade aos exportadores.

"Os indicadores industriais de maio mostram coerência e amplitude na recuperação da atividade na indústria de transformação", diz o boletim divulgado ontem pela CNI.

O aumento das horas trabalhadas, destacou Mol, é um sinal claro de crescimento da produção. Ao mesmo tempo, o nível de utilização da capacidade instalada indica que os riscos de gargalos com o incremento da atividade industrial são remotos. A CNI tem como base o aumento dos investimentos diretos no Brasil nos últimos meses.

- Esse cenário é interessante, pois o consumo das famílias está aumentando 4% ao ano e, ao mesmo tempo, as exportações continuam indo bem, embora com taxas de crescimento menores do que das importações - disse Mol.

A CNI estima expansão de 3,76% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) para 2006.