Título: LULA E EVO MORALES CRIAM COMISSÃO
Autor: Ramona Ordoñez/Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 06/07/2006, Economia, p. 26

Presidentes de Brasil e Bolívia discutiram a relação entre os dois países

CARACAS e RIO. Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Bolívia, Evo Morales, reuniram-se na terça-feira à noite, ao fim da solenidade de ingresso da Venezuela no Mercosul, em Caracas. A reunião, de cerca de meia hora, resultou na criação de uma comissão para debater a relação entre os dois países - uma das propostas do Brasil no auge da crise do gás, para evitar o esfriamento das relações bilaterais.

Lula negou que tivesse tratado unicamente da questão do preço do gás natural, em negociação desde que, em maio, a Bolívia nacionalizou suas reservas e unidades de produção. Segundo ele, foi proposta uma parceria efetiva entre Brasil e Bolívia. Mas Morales fez questão de dizer que a cooperação entre os dois países não fará a Bolívia abrir mão de cobrar um preço justo pelo gás.

- Queremos discutir uma parceria efetiva. Eles precisam de muita coisa e nós temos obrigação de ajudar - disse Lula.

O Brasil pagava US$1,23 por milhão de BTUs, valor que passa para US$4,30 este mês, dentro das regras do atual contrato, que prevê aumento trimestral. A Bolívia quer uma negociação política, ou seja, que extrapole o contrato, estabelecendo como preço US$8 por milhão de BTUs.

Lula evitou discutir o tema com Morales, já que a Petrobras está conduzindo as negociações e é contra a quebra de contrato. Lula negociou construção de estradas e cooperação na área de fronteira. O ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, disse que as negociações com a Bolívia continuam restritas ao âmbito do comitê técnico:

- Toda decisão é técnica de viés político, mas até o momento não vejo necessidade de interferência maior.

Ao mesmo tempo em que cancelou novos investimentos na Bolívia, a Petrobras expande operações nos demais países da América Latina. O presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, disse que a empresa estuda participar da expansão da única refinaria do Uruguai, que processaria petróleo pesado da Bacia de Campos.

(*) Enviado especial