Título: ENCRUZILHADA DIFÍCIL
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Fonte: O Globo, 06/07/2006, O Mundo, p. 29

Os disparos de foguetes de Gaza para o centro de Ashkelon são os ataques de maior alcance já feitos de território palestino. Os foguetes - contrabandeados do Egito - antes atingiam os arredores da cidade e seu objetivo era a central elétrica, mas agora podem alcançar qualquer lugar.

Ao dispararem os foguetes, os palestinos burlaram a vigilância de uma coluna blindada israelense que tinha entrado na Faixa de Gaza. O ataque foi uma tentativa de criar um novo equilíbrio, dada a atividade das forças israelenses em seu território. Se Israel atacar uma estação elétrica em Gaza ou os escritórios do premier Ismail Haniyeh, então os palestinos usarão seus foguetes para mostrar que têm poder de fogo para um contra-ataque.

O significado dos ataques de foguetes para Israel é que a atual rodada da guerra - na qual o Hamas mantém o controle das ruas, especialmente em Gaza - será difícil, especialmente porque os palestinos se muniram de uma quantidade de armamento e foguetes. Outra dificuldade para Israel é a existência de múltiplos grupos palestinos, incluindo os "piratas" que não se põem em contato uns com os outros, e também a existência de líderes competindo dentro do próprio Hamas.

No decorrer da última semana, os líderes israelenses repetidamente ameaçaram os palestinos com o que eles podem esperar se não libertarem o cabo Gilad Shalit. Ficou claro que o problema não está mais limitado a como salvar a vida dele. Isto é uma confrontação direta com o Hamas, outras organizações palestinas e seus adeptos, e seus apoiadores na opinião pública palestina.

O Hamas intensificou sua ação, e Israel ficou com poucas opções além de enfrentar essa ameaça, como qualquer outro país certamente faria. Israel está numa situação complicada: deve escolher entre concordar com uma troca de prisioneiros, dar e receber golpes dos palestinos - o que não levará o país a lugar algum - e intensificar sua ofensiva a fim de derrubar o governo do Hamas. Provavelmente esta última será a opção escolhida.

O que quer que decida, Israel terá de pensar bastante sobre uma estratégia de escape, mesmo que geralmente não leve esse conceito em conta em sua guerra contra o terror. Também está claro que Israel encontrará grandes dificuldades para explicar sua posição ao mundo. Não está de todo certo que o país estará em vantagem, mesmo estando enfrentando uma organização terrorista que prega a sua destruição.

ZE'EV SCHIFF é colunista do Ha'aretz