Título: O ERRO VOLTA PELOS CORREIOS
Autor: Gerson Camarotti e Patricia Duarte
Fonte: O Globo, 07/07/2006, O País, p. 3

Para garantir apoio do PMDB à reeleição, Lula entrega direção da estatal ao partido

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, devolveu ontem ao PMDB o comando integral dos Correios, que volta a ter gestão mais política e menos técnica. A estatal, que tem 110 mil funcionários e faturamento anual de R$9 bilhões, há um ano foi o epicentro do escândalo de corrupção que provocou a maior crise política do governo Lula e da história do PT. Em troca do apoio majoritário do PMDB à reeleição de Lula, o governo negociou com o PMDB entregar ministérios e estatais ¿com a porteira fechada¿ ¿ que no jargão político quer dizer com todos os cargos.

O primeiro gesto concreto da barganha saiu ontem no Diário Oficial: foi publicada a nomeação do presidente dos Correios e de mais três diretores da estatal. Todos indicados pelo PMDB governista de José Sarney (AP), Renan Calheiros(AL), Romero Jucá(RR), Ney Suassuna(PB) e Eunício Oliveira (CE). Vão substituir a direção técnica formada por funcionários de carreira que vinha comandando a estatal desde o escândalo da corrupção, em maio do ano passado, quando os políticos perderam os cargos.

O PMDB quer agora indicar apadrinhados para as três diretorias restantes dos Correios para a estatal ficar ¿puro-sangue¿. O partido já acertou a mudança do comando do Ministério da Saúde e de postos estratégicos em estatais como Conab, Eletrobrás e agências, como Anatel. O acerto de ganhar órgãos e ministérios de ¿porteira fechada¿, mantido em sigilo, foi assumido publicamente pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá.

¿ O governo não está pagando fatura alguma ao PMDB. Esta é uma argumentação anacrônica, já que a consolidação do apoio foi anterior ¿ disse Jucá, para depois explicar o acerto do partido com o Planalto:

¿ Defendemos a uniformidade de ação partidária nos órgãos e ministérios para que não haja disputa política interna, como no passado. Já aprendemos com os erros nesses quatro anos. Com um governo de coalizão a idéia é que os ministérios sejam verticalizados e entregues para os partidos. Nesse caso há duas vantagens: cada legenda passa a ter a responsabilidade pelas ações dos ministérios e haverá mais agilidade de gestão, pois todos os nomeados de uma dada pasta passam a remar na mesma direção.

Na segunda, acordo será celebrado

Na segunda-feira, será a vez de o PMDB pagar a fatura. Lula receberá no Palácio do Alvorada presidentes de diretórios regionais do partido, junto com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e senador José Sarney . Na ocasião será formalizado o acordo eleitoral. Dirigentes do partido defendem, inclusive, que seja formalizado um documento de apoio.

¿ Vamos nos encontrar com o presidente Lula na segunda-feira. Os representantes do partido devem manifestar apoio ao presidente ¿ confirmou Sarney.

O encontro de Lula com o PMDB será na prática sua primeira atividade de campanha. O encontro será à noite, quando a legislação eleitoral permite que um candidato à reeleição faça atos de campanha, e realizada numa das residências oficiais da Presidência: no Palácio da Alvorada ou na Granja do Torto.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, disse:

¿ Esse encontro foi uma proposta do PMDB.

O ministro diz apostar que pelo menos 70% do PMDB apoiarão a candidatura de Lula à reeleição. Para fechar alianças nos estados, o próprio presidente Lula tomou a frente das articulações políticas.

No decreto presidencial publicado ontem, o PMDB reassume de fato o controle dos Correios. Desde maio do ano passado, quando foi exonerado o presidente dos Correios, o peemedebista João Henrique, e todos os diretores da estatal, o partido reivindicava retomar o controle da estatal. Depois de uma queda-de-braço entre os peemedebistas, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, aceitou a indicação do novo presidente do órgão, Carlos Henrique Almeida Custódio. Ele, até então, era diretor de Crédito da Caixa Econômica Federal, e vai substituir Janio Cezar Pohren, funcionário de carreira que estava no cargo desde junho do ano passado. Custódio também recebeu a benção de Sarney e agora vai controlar uma das maiores e mais importantes estatais federais. Seu salário será de R$20 mil mensais.

O líder Romero Jucá tentou emplacar no comando dos Correios o amigo Samir de Castro Hatem, que foi presidente do INSS em sua gestão do ex-ministro da Previdência. Hatem também foi secretário de Fazenda e Administração da prefeitura de Boa Vista, na gestão de Tereza Jucá. Vetado por Costa com ajuda do Palácio do Planalto para a presidência da estatal, Hatem foi nomeado diretor comercial dos Correios.

As negociações em torno das nomeações dos Correios vinham desde a semana passada. O martelo foi batido anteontem durante tensas reuniões na Casa Civil e telefonemas para o Ministério das Comunicações pressionando o ministro Hélio Costa.

Os outros dois diretores nomeados, Carlos Roberto Samartine Dias e Menassés Leon Nahmias, funcionários de carreia da estatal e foram nomeados para uma diretoria cada, possivelmente serão operacional e de tecnologia, respectivamente.

Samartine entrou na cota de Suassuna e Nahmias, na do senador Luiz Otávio (PMDB-PA), do grupo do deputado federal Jarder Barbalho (PMDB-PA). Nahmias era diretor regional dos Correios no Pará. O senador Ney Suassuna mostra que mantém o prestígio no governo, mesmo depois de investigado por suposto envolvimento no escândalo conhecido como operação Sanguessuga.

Pefelista: ¿Lula não aprendeu com erro¿

O senador Heráclito Fortes (PFL-PI), subiu à tribuna do Senado para criticar as mudanças:

¿ O PT deveria ter cuidado. Cachorro mordido de cobra tem medo até de salsicha. Mas, pelo jeito, Lula não aprendeu com o escândalo. É um precedente grave. O PT jogou fora seus princípios.

¿ Eles (oposição) queriam que o partido indicasse o tesoureiro de Fernando Henrique? ¿ rebateu Jucá.

COLABOROU Cristiane Jungblut