Título: CANDIDATOS CLASSE A
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 07/07/2006, O País, p. 4

Patrimônio dos presidenciáveis presume rendimento alto

Impossível analisar as declarações patrimoniais dos candidatos à Presidência da República sem relacioná-los ao topo da pirâmide social do país que eles pretendem governar. No Brasil, um dos campeões planetários da desigualdade de renda, os 10% mais ricos ganham 16 vezes mais que os 40% mais pobres, segundo cálculos do IBGE. E não há dúvida de que tanto o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, quanto os que postulam seu cargo estão na banda superior da distribuição de riqueza ¿ caso contrário, não passariam nem perto de tantos bens.

À exceção da senadora Heloisa Helena (PSOL), que declarou bens no valor de R$121 mil, de Rui Pimenta (PCO), que possui 1/3 de um apartamento de R$100 mil, e de Luciano Bivar (PSL), que acumula R$8,7 milhões, todos os candidatos apresentam patrimônio de R$600 mil a R$1 milhão. São valores suficientes para considerá-los ricos, uma vez que é difícil manter tantos bens com baixos rendimentos.

¿ Temos que imaginar que, além do custo de aquisição, há despesas com a manutenção dos bens. Dos imóveis, por exemplo, são cobrados IPTU e condomínio. É impossível ter tantos apartamentos, salas comerciais, terrenos sem uma renda de, pelo menos, R$15 mil mensais ¿ diz Luiz Affonso Romano, presidente do Instituto Brasileiro de Consultores de Organização (IBCO).

Romano é co-autor, junto com o também consultor Rogério Gerber, de um estudo com base no Censo 2000 que desenvolveu para a sociedade brasileira uma nova classificação econômica. Seus critérios, que levam em conta rendimento médio, endereço e posse de bens, dividiu o país em nove classes, de A0 a E. Ele não tem dúvidas de que os presidenciáveis estão no alto da classificação (A0, A1 e A2), onde estão os brasileiros com renda média mensal de R$26.827, R$11.293 e R$8.313, respectivamente.

Mesmo Heloisa Helena, que declarou poucos bens, pode ser considerada classe A porque ganha um salário alto como senadora e é proprietária de dois automóveis. Os demais candidatos, na opinião de Romano, estão com o patrimônio subavaliado, porque apresentaram ao Tribunal Superior Eleitoral a lista com o valor de aquisição de cada bem. Atualizados, completa o consultor, imóveis, salas e terrenos devem valer muito mais.

O presidente Lula, por exemplo, declarou dois apartamentos em São Bernardo do Campo por R$38 mil cada um. Os imóveis valem menos que sua picape S10 ano 1998, avaliada em R$42 mil. O presidente, contudo, concentra seu patrimônio em ativos financeiros (fundos, poupança e ações), cujo valor costuma se referir ao último dia útil do ano anterior à declaração. Estaria, portanto, mais próximo da realidade do que os imóveis.

¿ O presidente pode ter aumentado seu patrimônio financeiro porque junta quase todo o dinheiro que ganha. Como presidente da República, ele tem suas despesas com casa, comida, saúde, serviços, custeadas pela União. Então, os quase R$15 mil que recebe por mês podem ter ido quase integralmente para poupança e fundos ¿ diz Romano.

O candidato tucano, Geraldo Alckmin, declarou que seu mais valioso bem é um apartamento em São Paulo, de R$323 mil. Mas ele tem outros bens imobiliários que, corrigidos pelo valor de mercado, poderiam fazê-lo mais rico. Por exemplo: uma casa em Pindamonhangaba de R$52 mil e um prédio comercial na mesma cidade, de R$27 mil. O senador Cristovam Buarque (PDT) declarou ter uma vaga de garagem de R$22 mil e uma sala comercial de valor quase idêntico, R$21 mil.