Título: `TIO MÁRIO¿ DIZ TER DADO CHEQUE A TESOUREIRO
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 07/07/2006, O País, p. 8
Comerciante e fazendeiro, ele confirma ajuda a responsável pelas finanças da campanha de Lula à reeleição
SÃO PAULO. O comerciante Mário Moreira, de 66 anos, o ¿tio Mário¿ citado pelo tesoureiro da campanha do presidente Lula, José de Filippi Júnior, para explicar a origem dos R$183 mil que teve de depositar em juízo, é dono de um supermercado de porte pequeno mas de movimento grande na Cidade Adhemar, divisa de São Paulo com Diadema. Na Junta Comercial do Estado de São Paulo, o estabelecimento está registrado com capital social de R$84.937,47. O faturamento é de menos de R$100 mil por mês. Moreira está estabelecido no local desde 1967 e tem orgulho de mostrar como foi ampliando aos poucos o negócio, que começou como um pequeno empório. Hoje tem outros bens.
O ¿tio Mário¿, que na verdade é tio da mulher de Filippi, confirmou ter emprestado R$150 mil ao hoje tesoureiro da campanha de Lula, mas disse que ainda não conseguiu pegar no banco cópia do cheque para comprovar o empréstimo.
Ele preferiu acusar o Ministério Público Estadual de fazer ¿jogo sujo¿ a favor do adversário tucano de Lula, Geraldo Alckmin.
¿ Por que só agora que o Filippi foi chamado para ser tesoureiro que ele (o promotor) abriu inquérito? Isso é jogo sujo do PSDB para ajudar o Alckmin ¿ disse Moreira.
Na quinta-feira da semana passada, dias depois do anúncio do nome de Filippi como tesoureiro da campanha de Lula à reeleição, o promotor Fernando Belaz, da Promotoria da Cidadania em Diadema, abriu inquérito para apurar a origem dos R$183.300 usados pelo prefeito para pagar uma pendência judicial. Filippi teria quitado a dívida com o dinheiro emprestado por Moreira.
Filippi teve os bens bloqueados por ter usado o símbolo do PT numa série de outdoors da Prefeitura de Diadema e foi condenado em segunda instância a devolver R$183.300 aos cofres públicos. Ele está recorrendo da decisão. Dois dias depois de abrir o inquérito, o promotor Belaz deixou a Promotoria de Diadema. O pagamento aconteceu em dezembro de 2003. O promotor não foi encontrado ontem para comentar a acusação. Já Alckmin reagiu com bom humor:
¿ Queria ter um tio bacana como este.
Além do supermercado, Moreira tem duas fazendas em Mato Grosso. Uma delas está tomada pela mata nativa. Na outra, ele cria gado e colhe cocos.
¿ Emprestei para o Filippi e, se ele não ganhar o recurso (na Justiça), vai pagar a longo prazo. Confio nele. Se precisar de mais um pouquinho, posso emprestar ¿ disse Moreira.
O comerciante disse que já pediu ao banco onde tem conta uma cópia do cheque de R$150 mil que deu a Filippi no dia 10 de dezembro de 2003.
¿ Estou à disposição da Justiça ¿ afirmou.
Segundo ele, o valor está sendo corrigido com base na caderneta de poupança.
Avesso à política, o comerciante estava propenso a votar em Geraldo Alckmin. Depois do inquérito contra Filippi, mudou de idéia:
¿ Não gosto de político nenhum. Só do Filippi porque conheço de perto e sei que ele é honesto. Da política a gente espera tudo o que não presta.
Anteontem, Filippi contou que, antes de aceitar o convite para o cargo de tesoureiro, informou ao presidente Lula sobre os problemas com suas contas e, mesmo assim, o presidente e a direção do partido optaram por mantê-lo no posto.