Título: BRASIL DESPERDIÇA TECNOLOGIA PRODUZIDA EM UNIVERSIDADES E PÓLOS CIENTÍFICOS
Autor: Henrique Gomes Batista
Fonte: O Globo, 07/07/2006, Economia, p. 24

Aproveitamento de patentes é um décimo do verificado em outros países

BRASÍLIA. O Brasil desperdiça descobertas tecnológicas das universidades e, mesmo nos principais parques de ciência e tecnologia do país, o aproveitamento das inovações equivale a um décimo do verificado em países semelhantes ao nosso. Essa é a conclusão de um estudo feito pela Universidade de Brasília (UnB), encomendado pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC).

O estudo abrange cinco parques tecnológicos ¿ Padetec/Universidade Federal do Ceará (UFC), Biominas/Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fundação Bio-Rio/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Inova/Universidade de Campinas e Tecnopuc/PUC do Rio Grande do Sul (PUC-RS) ¿ que, juntos, reúnem 72.118 pesquisadores e 35.003 alunos de mestrado ou doutorado. Somados, esses parques tecnológicos produziram 585 patentes desde suas fundações.

¿ É muito difícil comparar, mas podemos afirmar que em outros países que possuam uma integração mais forte entre empresa e universidade esse nível de patentes seria, no mínimo, dez vezes maior ¿ afirmou Ednalva Moraes, vice-diretora do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da UnB e uma das executoras da pesquisa. ¿ Há, sim, desperdício de produção científica no Brasil

Universidades são consideradas rivais

O estudo afirma ainda que ¿em geral, algumas empresas brasileiras ainda olham as universidades como rivais e não como aliadas¿. Os pesquisadores da UnB concluíram que há dois problemas: os industriais são muito passivos e as universidades ainda não conseguem implementar estratégias de transferência de tecnologia.

Os empresários presentes no IV Congresso Internacional Brasil Competitivo, promovido pelo MBC, lembraram que o governo vem fazendo importantes avanços, como a Lei da Inovação, mas disseram que os políticos também precisam favorecer a integração entre empresas e universidades.

¿ Inovação é uma das peças-chave para o crescimento sustentável do Brasil ¿ afirmou o presidente do grupo Gerdau e do MBC, Jorge Gerdau Johannpeter.

Já José Tadeu Alves, diretor da farmacêutica Merck Sharp & Dohme, patrocinadora da pesquisa, lembrou que o Brasil tem um espaço grande para avançar nas pesquisas nas ciências da vida, como agricultura, medicamentos e ciências biológicas:

¿ Podemos repetir o que foi feito com o parque aeroespacial em São José dos Campos (SP). Temos vocação para a área de ciências da vida e mesmo empresas multinacionais, como a nossa, podem investir em inovações brasileiras.

MBC quer propor ações para aumentar integração

Com base nos dados da pesquisa, o MBC quer propor ações para aumentar a integração entre as universidades e as empresas, o que pode gerar mais inovação tecnológica e um maior crescimento econômico do país. Essas propostas vão desde uma maior conscientização do empresariado e incentivo a uma maior abertura das universidades até o apoio governamental no fomento dessas uniões em parques tecnológicos.