Título: OFENSIVA VIOLENTA EM GAZA MATA 22 PALESTINOS
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Fonte: O Globo, 07/07/2006, O Mundo, p. 32

Tropas de Israel avançam e reocupam área abandonada, no dia mais sangrento desde que o Hamas assumiu o poder

BEIT LAHYA, Faixa de Gaza. Pelo menos 22 palestinos e um soldado israelense morreram ontem na mais violenta operação das forças de Israel desde que o Hamas assumiu o poder. Os combates mais sangrentos ocorreram na cidade de Beit Lahya, ao norte da Faixa de Gaza, e tinham como objetivos pôr fim aos ataques palestinos com foguetes feitos a partir da região e encontrar o cabo israelense Gilad Shalit, capturado em 25 de junho.

Durante a madrugada de ontem, o Exército havia ocupado uma área de Gaza que havia sido abandonada por israelenses há um ano. O objetivo seria criar uma zona de isolamento e impedir o acesso de palestinos armados ao local. As tropas, no entanto, continuaram avançando pela Faixa de Gaza durante todo o dia.

Israel fez ataques aéreos em várias regiões

Os blindados israelenses chegaram a Beit Lahya pelo oeste, depois de percorrem quatro quilômetros pela costa. Ao chegarem, penetraram nos bairros de Atatra e Salatine, onde os confrontos com os palestinos foram mais intensos. Centenas de moradores abandonaram as duas regiões por causa dos ataques. O soldado israelense morto, segundo as autoridades, estava num tanque que foi destruído em Atatra. Além da ação dos tanques, Israel fez ataques aéreos contra vários alvos palestinos. Estima-se que o número de feridos seja superior a 60, entre eles mulheres e crianças.

No sul de Gaza, dois palestinos morreram e outros cinco ficaram feridos num ataque da Força Aérea israelense, ocorrido próximo da passagem de Kissufim, depois que soldados israelenses foram alvejados com mísseis e foguetes.

O Exército israelense também fechou ontem a passagem de Karni, fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza e principal ponto de abastecimento da região palestina, alegando ter indícios de ameaça de atentado terrorista. A passagem havia sido aberta no início da manhã para fornecer à população produtos de primeira necessidade, assim como combustível, que estão cada vez mais escassos devido ao isolamento imposto por Israel como represália ao seqüestro do militar.

O ministro palestino do Interior, Saeed Siyam, do Hamas, fez um chamado para que as forças de segurança palestinas recorram às armas para cumprir ¿seu dever religioso e moral¿ de deter a agressão e invasão ¿covarde¿ de Israel.

Foi o primeiro chamado às armas do governo palestino desde que Israel invadiu Gaza, na semana passada. Para os líderes do Hamas, os israelenses estariam usando a crise como uma desculpa para, na verdade, destruir o poder do grupo, que controla a Autoridade Palestina e teve vários de seus políticos presos desde o início da crise.

Siyam teoricamente tem o controle sobre as forças de segurança palestinas, dominadas pela facção rival Fatah mas, na prática, controla uma pequena parcela de homens armados ligados ao Hamas.

Sobre o avanço das tropas israelenses sobre várias regiões de Gaza, um porta-voz militar israelense declarou apenas que ¿os terroristas palestinos atuam em centros urbanos e empregam civis como escudos humanos¿.

Tribunal prolonga prisão de dirigentes do Hamas

Nos últimos dias, várias organizações humanitárias fizeram alertas a respeito da grave crise em Gaza que afeta a população civil por falta de abastecimento. Nesta semana, a passagem de Karni abriu somente no domingo, na terça-feira e ontem.

Ainda ontem, um tribunal militar israelense na Cisjordânia aprovou o prolongamento, por 11 dias, da prisão de cerca de 20 dirigentes do Hamas, principalmente deputados e ministros, detidos maciçamente na semana passada.

A rádio pública israelense informou que quatro ministros e 11 deputados estão entre os detidos. A operação ocorreu na madrugada do último dia 29 em resposta ao seqüestro, quatro dias antes, do soldado israelense. Aparentemente, as autoridades israelenses julgarão os dirigentes eleitos por pertencerem a uma organização terrorista.