Título: POUCAS E DIFÍCEIS OPÇÕES PARA OS EUA
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 07/07/2006, O Mundo, p. 33

País viu estratégias de isolamento e de negociação multilateral fracassarem

NOVA YORK. O governo Bush tentou ignorar a Coréia do Norte, relutantemente aderiu a negociações e então apertou banqueiros na tentativa de fazer o líder norte-coreano Kim Jong-il sentir a pressão. Mas nenhuma das medidas adotadas nos últimos seis anos funcionou. Agora, após uma barreira de mísseis lançada pela Coréia do Norte, o presidente George W. Bush e seus conselheiros encontram-se diante do que um assessor descreveu como uma série de ¿más escolhas familiares¿.

As escolhas têm menos a ver com o novo míssil do que com uma questão maior: se o presidente deixará o cargo em 2009 sem conter um ditador imprevisível que se gaba de ter um arsenal nuclear.

¿ Estamos no momento em que o presidente tem que decidir se quer deixar uma Coréia do Norte nuclear e irrestrita como parte de seu legado ¿ disse Jonathan Pollack, professor de estudos de Ásia e Pacífico do United States Naval War College.

Bush já manifestou não ter interesse em aderir a um diálogo bilateral. Outra alternativa seria adotar uma linha dura que poderia aumentar o risco de uma escalada no confronto. Mas tal curso se complica com a suposição de que mesmo que Pyongyang não tenha como lançar uma arma nuclear, provavelmente possui combustível nuclear suficiente para vender a terroristas ou a outro Estado.

Testes de mísseis teria como objetivo chamar a atenção

Para muitos especialistas, o teste de mísseis se encaixa num padrão: sempre que Kim concluiu que não estavam dando atenção às suas demandas, tem encenado uma crise. Foi assim em 2003, quando expulsou inspetores estrangeiros e reprocessou oito mil varetas nucleares. Na época, o Pentágono apresentou a Bush opções militares, mas uma fonte revelou que ¿ficou claro que não era aceitável ¿ ou pelo menos um risco que ninguém queria correr¿.

A estratégia de isolamento fracassou: a Coréia do Norte continuou a produzir plutônio. Bush, então, reverteu o curso, concordando relutantemente em se reunir com os norte-coreanos por meio de negociações envolvendo China, Japão, Coréia do Sul e Rússia. Um acordo foi alcançado em setembro, pedindo o desarmamento. Mas antes que a tinta secasse, os norte-coreanos já o interpretavam de forma diferente. Até agora, Bush não conseguiu alinhar seus parceiros numa pressão coordenada. Se isso mudar, pode ser que o presidente finalmente tenha um caminho diante dele.