Título: CORÉIA DO NORTE AMEAÇA LANÇAR MAIS MÍSSEIS
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 07/07/2006, O Mundo, p. 33

Bush tenta vencer resistências de Rússia e China a sanções e pede resposta unificada à comunidade internacional

PEQUIM. Em meio a discussões no Conselho de Segurança da ONU sobre a melhor forma de responder ao lançamento de sete mísseis da Coréia do Norte, o governo de Pyongyang falou ontem pela primeira vez sobre a crise, não só confirmando os testes como ameaçando países vizinhos com novos lançamentos caso se sinta pressionado.

Enquanto isso, o presidente George W. Bush telefonava a China e Rússia, em busca de uma resposta comum contra os testes de mísseis, mas os dois países continuam a rejeitar a possibilidade de impor sanções ao regime de Pyongyang.

O Ministério das Relações Exteriores da Coréia do Norte definiu os testes como ¿exercícios militares¿ e reafirmou seu direito de realizá-los. ¿Como país soberano, estamos no nosso direito legal¿, disse o comunicado.

A situação na região continua tensa. Autoridades sul-coreanas afirmaram que a movimentação em bases de lançamento na Coréia do Norte continua, o que sugere novos testes. A NBC News citou fontes no governo americano dizendo que um segundo teste com míssil de longo alcance estaria sendo preparado. Já o Japão descartou a hipótese de novos lançamentos.

Putin alerta contra reação emocional

Os norte-coreanos mantiveram o tom de ameaça: ¿Nossos militares vão continuar com os exercícios de mísseis no futuro como parte de nossa estratégia de defesa. Se qualquer um pretende interromper ou colocar pressão sobre este assunto, seremos obrigados a tomar outras medidas físicas mais fortes.¿

Os sul-coreanos, no entanto, não pretendem abandonar os esforços para tentar resolver a questão diplomaticamente.

Ontem, Bush ligou para os presidentes Hu Jintao, da China, e Vladimir Putin, da Rússia, defendendo a necessidade de a comunidade internacional se expressar ¿com uma só voz¿. Na véspera, ele ligara ainda para Japão e Coréia do Sul.

¿ A minha mensagem é que desejamos resolver o problema diplomaticamente, e a melhor maneira é trabalhando em acordo e enviar uma mensagem, que é: ¿Esperamos que aceitem as normas internacionais e mantenham a palavra¿ ¿ disse Bush. ¿ Será uma ameaça menor quanto mais isolado estiver.

Autoridades da China e da Rússia passaram o dia ontem reafirmando que apenas um grande esforço diplomático poderá trazer de volta a Coréia do Norte para a mesa de negociações. O vice-ministro do Exterior da China, Wu Dawei, vai à Coréia do Norte tentar convencer o país a retomar a conversa com as cinco nações que negociam o programa nuclear (EUA, Japão, Coréia do Sul, Rússia e China).

Em Moscou, o presidente Vladimir Putin disse que estava desapontado com o lançamento dos mísseis, mas afirmou que o país tinha o direito de fazê-lo. Putin advertiu ainda que os lançamentos não deveriam deflagrar uma reação emocional ¿que sufocasse o bom senso¿.

Apesar da resistência de China e Rússia a sanções, os EUA esperam que o Conselho de Segurança adote uma forte resolução contra Pyongyang. O embaixador americano na ONU, John Bolton, disse que o conselho havia feito ¿bons progressos¿, embora diplomatas ocidentais acreditem que as sanções propostas pelo Japão serão descartadas. Tóquio deverá ainda pressionar por uma censura à Coréia do Norte durante a reunião do G-8, de 15 a 17 de julho em São Petersburgo, Rússia.

O governo brasileiro deixou claro ontem que apoiará qualquer decisão da ONU. O Itamaraty condenou o lançamento de mísseis, sob o argumento de que os testes causam tensão a um quadro regional já instável.

¿ Esperamos uma forte reação das Nações Unidas. Os testes não contribuem para a paz ¿ afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

COLABOROU Eliane Oliveira, de Brasília