Título: ATENTADOS EM SÉRIE EM SP
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 08/07/2006, O País, p. 3

Mais um agente penitenciário é assassinado e criminosos atacam também casas de policiais

Orecrudescimento da violência em São Paulo fez ontem uma nova vítima e reforçou o clima de insegurança no estado. Numa onda de ataques em série contra agentes penitenciários, Paulo Gilberto de Araújo, de 54 anos, foi morto a tiros quando saía de casa, às 6h30m, para trabalhar no Presídio Adriano Marrey, em Guarulhos. Com sua morte sobe para sete o número de funcionários do sistema penitenciário (cinco agentes, um carcereiro e um soldado PM) mortos pela principal facção criminosa do estado em nove dias. Ainda na onda de atentados, duas casas de policiais foram atacadas por bandidos, com as residências pichadas e baleadas.

O agente se preparava para tirar o carro da garagem quando criminosos, num Corolla escuro, passaram atirando. Três tiros foram disparados e um deles o atingiu, segundo testemunhas. Araújo era um dos diretores regionais do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional (Sifuspesp).

Pouco antes, ainda na madrugada, as casas de um tenente coronel da Polícia Militar e de um policial civil, no bairro do Jaçanã, Zona Norte, foram atacadas. Depois de atirar contra as casas ¿ atingindo ainda duas residências vizinhas ¿ os criminosos jogaram nos quintais bombas artesanais, que não explodiram. Enquanto dois homens faziam campana na rua, outra dupla tentou incendiar um carro parado em frente a uma das casas. Os bandidos jogaram líquido inflamável nas residências, mas não chegaram a atear fogo. As casas tiveram os muros pichados com os apelidos dos policiais e suas funções na polícia. Escreveram palavras como ¿morte¿ e a inscrição da facção criminosa.

A Secretaria de Segurança Pública informou que a morte do agente e os ataques contra casas de policiais já estão sendo investigados. Até o início da noite de ontem ninguém havia sido preso.

Nas prisões, visitas proibidas e protesto

Dois sindicatos que representam a categoria ¿ o dos agentes de segurança penitenciária e o dos funcionários do sistema prisional ¿ informaram que as visitas de parentes aos presos devem ser proibidas amanhã. Segundo as duas entidades, funcionários de várias unidades prisionais pararam parcialmente ontem e os agentes devem cruzar os braços nas próximas 24 horas em protesto pela morte de Paulo Gilberto ontem.

Em meio ao clima de insegurança, autoridades tentavam ontem contornar a situação dos 1.600 presos do Presídio de Araraquara. Após a rebelião em que destruíram quatro pavilhões, nos últimos dois meses, os detentos foram postos num pátio com capacidade para apenas 160 pessoas.

Segundo relato de presos ao senador Eduardo Suplicy (PT), que esteve no local, 107 estariam feridos, 37 deles em estado grave. Para conter a rebelião, a direção do presídio determinou que as portas do pátio onde estão os presos fossem soldadas.

Os presos estão isolados, sem contato com agentes ou médicos. A comida é entregue por um buraco no teto, de uma altura de três metros. Foi por esse buraco que o senador Suplicy conseguiu conversar com os presos, anteontem à noite.

Araraquara: presos ficarão confinados

O secretário de Administração Penitenciária, Antônio Ferreira Pinto, afirmou que a situação na penitenciária é ¿extremamente precária¿. Mas, segundo ele, ¿não há outra alternativa a não ser mantê-los por algum tempo¿ no local. Ele informou que o presídio de Araraquara está ¿totalmente destruído¿.

Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), não há previsão para transferência dos presos. As obras para reforma devem começar na semana que vem. ¿A situação que permanecia até o momento era por absoluta falta de vagas em outras unidades, tendo em vista que outras penitenciárias que passaram pela megarrebelião também necessitam de reformas¿, informou a SAP em nota oficial divulgada ontem.

O secretário também lamentou a morte do agente penitenciário Paulo Gilberto.

¿ Os assassinatos de agentes penitenciários são atos de covardia.

Até a noite de ontem, parentes dos presos de Araraquara não conseguiam obter informações sobre os parentes. Na porta da unidade prisional, centenas de mães dos detentos realizaram um protesto contra a falta de informações. A administração do presídio havia dito que ontem autorizaria a entrega de correspondências dos presos para seus familiares, mas isso acabou não acontecendo.

¿ Não tenho informação alguma sobre meu filho. Ele levou um tiro com bala de borracha no rosto e não sei como ele está ¿ dizia Nair Galvão, mãe de um dos preso confinados em Araraquara.