Título: GARANTIDOS OS CARGOS, PMDB PEDE A REELEIÇÃO
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 08/07/2006, O País, p. 12
Oposição critica entrega de direção dos Correios ao partido em troca de apoio, que OAB chama de barganha
BRASÍLIA. Econômico nos discursos em plenário, um dia depois de o PMDB ganhar o comando dos Correios em troca do apoio à reeleição do presidente Lula, o senador José Sarney (PMDB-AP), um dos principais líderes do partido, subiu à tribuna para defender novo mandato para o petista. Juntamente com o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), Sarney negociou o apoio da ala governista da legenda ao petista. Em troca, o partido deve receber o comando de ministérios e estatais.
No discurso, Sarney disse que Lula é a melhor opção para a democracia brasileira. Ele e Renan agendaram um encontro na segunda-feira de dirigentes regionais do PMDB com o presidente para formalizar o apoio.
¿ Quero afirmar que sempre defendi, dentro do partido, a posição de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É meu dever, antes de começarmos a campanha presidencial, fixar minha posição aqui. Acredito que o presidente Lula, melhor do que ninguém, pode conduzir a democracia a um novo patamar ¿ disse Sarney, que quebrou o silêncio em relação às denúncias de corrupção no governo. Disse que Lula adotou um comportamento sereno e equilibrado ao tratar das denúncias.
O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), saiu em defesa das mudanças feitas por Lula na direção dos Correios. Ele afirmou que a negociação é legítima e acusou o PSDB de fazer a mesma coisa quando estava no governo:
¿ Esse é um critério de composição. Quando transparente, não há problemas. Não podemos achar que não vamos fazer uma discussão de participação dos partidos no governo. A negociação é legítima. O escândalo dos Correios foi um ponto fora da curva.
¿É lamentável que isso ocorra¿
Mas a decisão de Lula causou forte reação de entidades e da oposição. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) classificou a negociação de ¿barganha política¿.
¿ É lamentável que isso ocorra principalmente neste momento tão importante, em que o país começa a se reerguer depois de uma grave crise, só para garantir a dianteira no processo eleitoral. Não podemos aceitar que estatais que são tão eficientes, como os Correios, e agências públicas como a Anatel sejam sempre tratadas como um prêmio em troca de apoio político ¿ afirmou Ercílio Bezerra, presidente em exercício do Conselho Federal da OAB.
Para o líder da Minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), o governo voltou a errar ao entregar ao PMDB justamente a estatal que foi o pivô da maior crise política da gestão Lula. Ele disse que esperava que os escândalos e, sobretudo, a denúncia do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, contra o que classificou de ¿organização criminosa¿, tivessem servido de lição ao governo:
¿ As decisões do Planalto sugerem que os escândalos de corrupção no governo não foram acidentais ou pontuais. Como denunciou a Procuradoria Geral da República, foi montado um esquema para assaltar os cofres públicos. E agora, constata-se, o presidente da República apenas repõe peças oriundas das mesmas facções que comprometeram instituições respeitáveis como os Correios.
O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, criticou a decisão do presidente.
¿ Foi exatamente nos Correios que tivemos o início de toda essa grande crise ¿ disse ontem em Barreiras (BA).