Título: ANTIGOS CHEFÕES DE VOLTA ÀS RUAS
Autor: Vera Araujo
Fonte: O Globo, 08/07/2006, Rio, p. 14

Tuchinha, da Mangueira, ganha liberdade condicional e Professor, fundador de facção, foge

Apontado pela polícia como o chefe do tráfico, nas décadas de 80 e 90, do Morro da Mangueira, principal entreposto de venda de drogas no Rio depois da Rocinha, Francisco Paulo Testas Monteiro, o Tuchinha, de 42 anos, é o próximo bandido a deixar uma penitenciária de segurança máxima pela porta da frente. Na próxima segunda-feira, beneficiando-se de um livramento condicional expedido no último dia 5 pelo juiz auxiliar da Vara de Execuções Penais do Rio, Ludovico Couto Colacino, ele sairá de Bangu I, no Complexo de Gericinó. A Secretaria de Segurança está em alerta para o que possa ocorrer na Mangueira.

Tuchinha, que cumpria pena por tráfico e formação de quadrilha, tendo sido condenado a 43 anos e nove meses de cadeia, estava preso desde 2 de agosto de 1989. De acordo com sua ficha criminal, ele é considerado de ¿periculosidade alta¿. O término de sua pena estava previsto para o dia 8 de fevereiro de 2019. No entanto, como o detento cumpriu mais de um terço da pena, o juiz decidiu conceder o livramento condicional. Além deste requisito, o Código Penal prevê que o juiz só pode dar o benefício aos condenados que não forem reincidentes em crime doloso e tiverem bons antecedentes.

O traficante terá que se apresentar ao juiz a cada três meses e não poderá deixar a cidade sem autorização. Tuchinha integra uma lista de traficantes antigos do sistema penitenciário, a chamada velha-guarda do tráfico.

Em 17 de fevereiro de 2003, o então comandante do 4º BPM (São Cristóvão), tenente-coronel Erir Ribeiro da Costa Filho, enviou à Secretaria de Segurança um relatório acusando o então secretário estadual de Esportes, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, de pedir uma trégua no combate ao tráfico na favela. Chiquinho negou a acusação, dizendo ter pedido apenas que as blitzes não fossem feitas nos horários de entrada e saída das escolas, para evitar que crianças fossem baleadas.

Tuchinha é suspeito de matar sambista

A última informação da polícia sobre Tuchinha o apontava como suspeito da morte de Robson Roque, presidente da bateria da Mangueira desaparecido em dezembro de 2004. Na época, a polícia levantou a hipótese de que Robson teria um romance com a mulher de Tuchinha.

Outro da velha-guarda, considerado fundador de uma facção criminosa carioca, William da Silva Lima, o Professor, de 64 anos, sucumbiu ao apelo das ruas na primeira oportunidade que teve, ao gozar do benefício da visita periódica ao lar, no último Dia das Mães (14 de maio). William saiu, não retornou mais ao Instituto Penal Edgar Costa, em Gericinó, e é considerado foragido. Ele foi condenado a 87 anos por assalto à mão armada e formação de quadrilha, e o término de sua pena estava previsto para 13 de dezembro de 2008.

Beneficiário, desde 20 de dezembro de 2004, do regime semi-aberto (que dá direito a sair para trabalhar e estudar, voltando ao presídio para dormir), William não conseguiu comprovar emprego, o que inviabilizou sua saída da cadeia até 14 de maio, quando teve o direito de visitar a mãe.

Também aproveitando o regime semi-aberto, outro integrante da velha-guarda, o ex-PM Zacarias Gonçalves Rosa Neto, o Zaca, de 55 anos, saiu há quatro meses da Casa do Albergado Crispim Ventino, em Benfica, onde não chegou a passar uma noite sequer: a exemplo de William, não voltou mais. Zaca, chefe do tráfico do Morro Dona Marta na década de 80, foi condenado a 34 anos de prisão. Ficou famoso ao chefiar uma guerra de 14 dias com traficantes rivais, chefiados por Emílson dos Santos Fumero, o Cabeludo.