Título: A deflação dos combustíveis
Autor: Flavia Oliveira
Fonte: O Globo, 08/07/2006, Economia, p. 27

Álcool e gasolina fazem IPCA cair 0,21% em junho e fechar 1º trimestre em 1,54%

Aqueda forte nos preços dos combustíveis, em particular do álcool, levou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) à deflação no mês passado. Usada como referência do sistema de metas de inflação, a taxa caiu 0,21%, contra alta de 0,10% em maio. Desde junho de 2005, quando ficou negativo em 0,02%, não havia deflação no IPCA. Com o resultado divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice terminou o primeiro semestre com variação de apenas 1,54%, consolidando um novo patamar para a inflação e praticamente garantindo o cumprimento da meta de 4,5% deste ano.

¿ Em junho, as grandes forças foram alimentação e combustíveis, mas a inflação como um todo está muito baixa, em parte pela queda do dólar. Houve uma mudança de patamar na inflação e há um imenso espaço para o cumprimento da meta, mesmo que haja reajuste no preço da gasolina ¿ disse Alexandre Maia, economista da GAP Asset Management.

No mês passado, a queda do IPCA se concentrou na gasolina e no álcool, embora os alimentos também tenham apresentado variação negativa de 0,61%. Sozinhos, os dois combustíveis responderam por -0,18 ponto percentual da inflação de junho. O álcool, que de julho de 2005 a março deste ano subiu 58,76%, acumula queda de 18,95% nos três últimos meses. Apenas em junho, caiu 8,77%. A gasolina, um dos itens de maior impacto na inflação ¿ com peso de 4,54%, só perde para ônibus urbanos ¿ e vendida numa mistura de 20% de álcool, viu seu preço cair 1,6% mês passado.

¿ O que tivemos em junho foi a deflação do álcool. Além de cair, o produto influenciou a gasolina. Ainda assim, os preços estão se consolidando na estabilidade. A trajetória da inflação é declinante, como resultado do câmbio baixo e da desindexação da economia ¿ completou Eulina Nunes, coordenadora do Sistema de Índices de Preços do IBGE.

Analistas esperam mais queda de juros

A técnica chama a atenção para o quase inédito resultado do IPCA no segundo trimestre de 2005. A alta de apenas 0,10%, segundo Eulina, é ¿um nível de país desenvolvido¿. Em razão dessa desaceleração da inflação, os economistas reafirmam suas apostas na continuidade do processo de redução dos juros básicos pelo Banco Central. Marco Antonio Franklin, sócio da Plenus Gestão de Recursos, prevê nova queda de meio ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), seguida de dois cortes de 0,25 ponto em agosto e outubro. Assim, a Selic iniciaria o quarto trimestre a 14,25% ao ano, nível nunca antes registrado.

Maia, da GAP, também prevê corte de 0,5 ponto percentual no Copom deste mês. De tão otimista, chega a afirmar que o país está pronto para um novo nível de juros reais, em torno de 8%. Isso porque, além da inflação altamente favorável ao afrouxamento da política monetária, a economia está crescendo com equilíbrio entre oferta e demanda.

Já Elson Teles, da Concórdia Corretora, é mais cauteloso. Para ele, os fatores que estão derrubando a inflação este ano não se repetirão em 2007. Há incertezas no cenário internacional, pressão nos preços do petróleo e fatores isolados, como a oferta de carne em razão do boicote às importações brasileiras, que desmentem a percepção de que a queda da inflação é estrutural, disse ele:

¿ Em 12 a 18 meses, prazo que o BC está olhando agora, a inflação tende a um nível mais elevado. Por isso, não acredito num afrouxamento exagerado. A partir de agosto, o Copom pode interromper a queda dos juros para observar melhor a tendência.

Em junho, os alimentos também contribuíram para a deflação no IPCA, com queda de 0,61%, graças a itens como tomate, batata, feijão, frutas e carnes ¿ os três primeiros tiveram queda de dois dígitos. Dos produtos importantes da mesa do brasileiro, apenas frango, pão francês, óleo de soja e ovos subiram de preço em junho. Eulina, do IBGE, também destaca a desaceleração nos preços do vestuário, antes mesmo da chegada do inverno. O grupo, que subira 0,9% em maio, avançou 0,59% em junho.

¿ As TVs também contribuíram. Por causa das promoções para a Copa, os preços caíram 3,25% ¿ disse.

O IBGE também divulgou o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação das famílias que ganham de um a oito salários-mínimos. Em junho, a taxa teve deflação de 0,07%, resultado pior que o do IPCA porque os combustíveis pesam menos para os mais pobres. No ano, contudo, o índice acumula 1,06%.

NOMEAÇÃO NA ANATEL PERMITIRÁ DEFLAÇÃO NA TELEFONIA, na página 28