Título: Para haver segundo turno
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 09/07/2006, O GLOBO, p. 2

A meta de Geraldo Alckmin é garantir o segundo turno e, lá chegando, tentar virar o jogo. A de Lula, óbvio, é ganhar no primeiro. Nas contas do PSDB, para haver segundo turno o tucano precisa alcançar 35% dos votos no primeiro. Para a Consultoria Mosaico, ele teria que ultrapassar os 36% e tirar pelo menos seis pontos percentuais de Lula.

Isso, mantidos os atuais percentuais de indecisos, de eleitores dispostos a votar em outros candidatos e a votar nulo ou em branco.

As últimas pesquisas Datafolha e Vox Populi situaram Alckmin na casa dos 30% das intenções de voto. Crescendo mais seis pontos percentuais ele poderia chegar ao segundo turno com uma probabilidade razoável (entre 35% e 40%) de virar o jogo e ganhar. Para isso, Lula teria que perder gordura, caindo do patamar atual de aproximadamente 45% para abaixo de 40%. Alexandre Marinis, da Mosaico Economia Política, acha que esta troca de votos entre Lula e Alckmin é difícil mas matematicamente possível, a depender dos esforços do candidato e da estratégia da campanha.

Seus cálculos foram feitos a partir da análise de 121 eleições brasileiras decididas em segundo turno nos últimos 15 anos. Entre elas, as eleições presidenciais de 1989 e 2002, todas as eleições para governador decididas em segundo turno em 1994, 1998 e 2002 e as eleições municipais decididas na mesma condição em 2000 e 2004.

O levantamento mostrou que em apenas 27% dos casos (33 pleitos) o resultado se inverteu no segundo turno, com a vitória do candidato que chegou em segundo lugar. A possibilidade de que isso ocorra é ainda menor quando o mais votado chega com uma vantagem superior a 10% dos votos válidos. Das 33 viradas de segundo turno encontradas, nada menos do que 27 (ou 82% do total) ocorreram quando a diferença de votos entre os dois primeiros colocados era inferior a 10% dos votos válidos. Apenas seis viradas (18% do total) ocorreram quando a diferença ultrapassava esta margem.

Hoje a vantagem de Lula sobre Alckmin é, na média das pesquisas, de 18 pontos percentuais de votos válidos. Pela equação de Marinis, se o tucano conseguisse reduzi-la a 5% no primeiro turno, suas chances de virar o jogo aumentariam de 12% para 39%.

O deputado Delfim Netto costuma dizer que política e eleição não teriam graça se fossem regidas pela matemática. Não mesmo, mas o estudo das probabilidades ajuda os candidatos na definição de estratégias. Animado com as indicações desta natureza é que Alckmin trabalha agora pela ocorrência do segundo turno e para alcançar os 35%. Os petistas também começam a admitir esta possibilidade, mas acham que mesmo assim Lula ganha. Só que seria um presidente mais fraco, que enfrentaria mais adversidades. E uma de suas obsessões é fazer um segundo mandato superior ao primeiro. A primeira palavra do novo programa de governo agora é educação.

Para chegar aos 35%, Alckmin aposta na televisão, a partir de agosto, e em seu fortalecimento nas fronteiras anti-Lula, como os estados onde o agronegócio é forte e enfrenta adversidades. Lula, o PT e o governo o ajudam quando escolhem tesoureiro complicado e pagam adiantado a fatura do PMDB.