Título: BANCADA FEDERAL DO RIO TEM 40% SOB SUSPEITA
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 09/07/2006, O País, p. 10

Dos 61 parlamentares fluminenses da Câmara e do Senado, 25 são acusados ou respondem a inquérito

BRASÍLIA. A bancada do Rio no Congresso Nacional chega à reta final da atual legislatura na berlinda. Levantamento feito pelo GLOBO nas investigações em curso no Parlamento e no Supremo Tribunal Federal (STF) revela que 25 dos 61 parlamentares fluminenses que tiveram uma cadeira na Câmara e no Senado nos últimos três anos e meio são acusados ou respondem a inquéritos neste momento por suspeita de terem cometido crimes. O grupo representa 40% da bancada eleita em 2002.

Nos corredores do Congresso diz-se que não há um escândalo que não tenha um parlamentar do Rio envolvido. Dos quatro deputados que tiveram seus mandatos cassados pelos colegas na atual legislatura, dois são do estado: André Luiz (expulso do PMDB), flagrado pedindo propina a um empresário de jogos, e Roberto Jefferson (PTB), que denunciou o valerioduto e também se beneficiou dele.

No mais novo escândalo, da máfia dos sanguessugas, nada menos do que 17 deputados do Rio foram acusados de envolvimento no esquema de venda de ambulâncias superfaturada. Novamente, o estado encabeça a lista dos 81 parlamentares acusados pela principal testemunha do caso, a ex-assessora especial do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino. Presa por participação no esquema, ela denunciou que a fraude nascia nos gabinetes do Congresso e entregou à Polícia Federal uma relação de políticos que, segundo ela, se aliaram à quadrilha.

Na Câmara, a bancada sem-lei

A análise mostra ainda que políticos do Rio formam na Câmara a bancada dos sem-lei. Em três anos e meio, apenas três dos 130 projetos de lei e projetos de emenda constitucional aprovados em plenário foram obra de deputados do Rio ¿ dois de Laura Carneiro e um de Rodrigo Maia, ambos do PFL. Os parlamentares argumentam que o governo engessou o trabalho do Parlamento com a enxurrada de medidas provisórias. Mas há nove deputados que passaram a legislatura em branco, sem apresentar um projeto sequer.

Muitos preferem se empenhar na obtenção de emendas com recursos para seus municípios, encaixando-se no perfil que leva cientistas políticos a chamarem os deputados de vereadores federais, que atuam apenas em suas bases eleitorais e pouco discutem as questões principais do estado.

¿ A bancada do Rio não atua como representante do estado. A gente vive se queixando que não recebe recursos, mas isso é reflexo da incapacidade da bancada de deixar as divergências de lado e atuar unida, como fazem as bancadas da Bahia e de Pernambuco, por exemplo ¿ diz o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro. ¿ Os deputados estão mais preocupados em conseguir uma ponte, o asfaltamento de uma estrada, e com isso se perpetuam no poder.

O petista Antônio Carlos Biscaia, presidente da CPI dos Sanguessugas, conta que deixou de ir à reuniões da bancada por causa das brigas.

¿ As reuniões não são feitas com regularidade, não há o mínimo entendimento ¿ diz ele.

Acompanhando a média nacional, a presença no plenário também é baixa. A maioria das faltas, porém, foi justificada pelos parlamentares com licenças médicas ou participação em missões oficiais.

Apesar de todos os indicadores negativos, uma pesquisa mostrou que os políticos do Rio ainda exercem muita influência: 11 deputados e senadores fluminenses estão entre os cem mais influentes do Legislativo. O número só é superado por São Paulo, com 16 na lista.