Título: Ambição pessoal seria a causa dos problemas
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 09/07/2006, O País, p. 14

`Antes havia reclamação, intriga. O ambiente era carregado¿, disse presidente a ex-ministro

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma teoria pronta para explicar o ambiente mais tranqüilo que tomou conta do Planalto nos últimos meses: diferentemente de Antonio Palocci e José Dirceu, os atuais ministros não disputam poder nem têm projetos pessoais conflitantes.

¿ A mudança foi da água para o vinho. Antes havia muita reclamação, muita intriga. O ambiente era carregado ¿ admitiu Lula para um ex-ministro.

Segundo um assessor, o presidente Lula foi cuidadoso ao montar a sua nova equipe e acabou copiando uma estratégia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que nunca pôs no Planalto ministros com projetos políticos pessoais. Para evitar disputa, Lula colocou nos principais postos ministros que não ambicionam disputar a sucessão de 2010. O presidente considera a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, uma técnica leal e competente que não tem ambição pessoal de poder.

Sobre Tarso Genro, ministro das Relações Institucionais, Lula não acredita que ele tenha qualquer projeto político nacional. Genro teria deixado isso claro na conversa que teve com Lula quando foi convidado para assumir a pasta. Já o ministro Luiz Dulci, da Secretaria Geral, sempre foi considerado por Lula um ponto de equilíbrio no Planalto.

Na área econômica, Lula dividiu as atribuições antes controladas por Palocci. Deixou a Fazenda com Guido Mantega, considerado pelo presidente um técnico fiel. Lula acredita que, diferente do antecessor, Mantega não tem perfil para disputas de poder.

Já a articulação da área econômica com o Congresso foi repassada ao ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Na avaliação de assessores do Planalto, Bernardo não chega a ser uma ameaça de poder no primeiro escalão, pois suas ambições são restritas à política regional do Paraná. Lula já teria percebido também que o titular do Planejamento, antes muito ligado a Palocci, integrou-se rapidamente ao novo comando.

Durante os dois primeiros anos do governo, Lula teve que contornar crises de seus dois principais ministros. Palocci e Dirceu divergiam publicamente e nos bastidores em relação à condução da política econômica. Outro ponto de desequilíbrio era o ministro Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação), que foi afastado de sua função original e agora tem atuação discreta como assessor do Núcleo de Assuntos Estratégicos. (Gerson Camarotti)