Título: BRAÇOS DIREITOS AGORA VÃO CUIDAR DO DINHEIRO
Autor: Dimmi Amora e Maia Menezes
Fonte: O Globo, 09/07/2006, O País, p. 15

No Rio, candidatos escolhem homens de confiança, que admitem aceitar recursos de fornecedores para a campanha

Alçados do bastidor à linha de frente das campanhas eleitorais, os tesoureiros ganharam lugar de destaque na lista de preocupações dos candidatos. No Rio, dois deles são políticos, aliados de primeira hora de seus chefes. Quase todos reconhecem que a transparência tornou-se pré-requisito das campanhas, mas ainda devem reproduzir hábitos pré-mensalão: a procura por doadores que já prestaram serviço a empresas ou órgãos aos quais os candidatos foram vinculados.

Fornecedores do estado não são descartados na busca pelos mais de R$50 milhões estimados pelos tesoureiros como custo de campanha. A lei eleitoral permite esse tipo de doação, mas os próprios tesoureiros reconhecem limitações éticas para a escolha.

Doadores de Crivella trabalharam para Record

Suplente do senador Sérgio Cabral Filho (PMDB), o advogado Regis Fitchner afirma que têm sido boas as conversas com empresários e potenciais doadores e ressalta que toda a movimentação de recursos que entram e saem da campanha será divulgada na internet no dia 6 de agosto, como determina o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O tesoureiro, que é também procurador do estado, diz que, mesmo que não haja restrições legais, pretende recusar doações de grandes fornecedores do estado.

¿ Não há proibição (para a doação por fornecedores), apenas para concessionárias e permissionárias. Vamos analisar caso a caso, quando formos procurados. Vamos tentar não receber de grandes doadores, para evitar dúvidas de natureza ética ¿ afirmou o tesoureiro, que não descartou a possibilidade de aceitar doações de pequenos fornecedores.

O PMDB montou um comitê financeiro, que será responsável também pela arrecadação e pela prestação de contas dos candidatos proporcionais. A lei determina que as campanhas sejam financiadas com recursos próprios, doações de pessoas físicas ou jurídicas e doações partidárias. Não podem fazer doações, entre outros, órgãos da administração pública, fundações, concessionárias e permissionárias do poder público e ONGs que recebem dinheiro público.

Natal Furrucho, ex-executivo da Rede Record, será o tesoureiro da campanha do senador Marcelo Crivella (PRB). A ligação do candidato com a emissora ajudará na arrecadação de recursos. Segundo Furrucho, os doadores serão os mesmos da última campanha: empreiteiras que já trabalharam para o grupo Record.

¿ Serão empresas que doaram na campanha passada e já trabalharam para o grupo. Como ele (Crivella) está em segundo lugar, as pessoas procuram pelo Crivella. Isso é natural. O nosso costume é trabalhar com doações oficiais. Nunca tivemos caixa dois. Nossa campanha é barata, porque os militantes já fazem o trabalho para nós nas ruas ¿ diz

O vereador Luiz Antônio Guaraná (PSDB) será o homem das finanças da campanha do candidato do PSDB ao governo do estado, Eduardo Paes. Eles trabalham juntos há quase 15 anos e foram subprefeitos no mesmo período. Da época, conquistaram a confiança de empreiteiros da construção civil, que ajudaram Paes e Guaraná em suas campanhas. Como subprefeitos, lembra Guaraná, os dois combateram as construções informais na Barra da Tijuca, o que, a longo prazo, proporciona lucros a empresários da construção civil.

¿ Vamos continuar procurando aqueles que nos conhecem. Nunca aceitamos doações daqueles que querem, mais na frente, cobrar fatura de quem for eleito ¿ disse Guaraná, que reconhece que o cargo de tesoureiro se tornou mais visado depois dos escândalos envolvendo o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares:

¿ Justamente porque está na vitrine, é preciso um cuidado enorme com o cargo de tesoureiro. Ele (Eduardo Paes) foi um dos grandes responsáveis pelo fato de o escândalo do Lula ter aparecido.

Denise Frossard diz não ter tesoureiro

Com a campanha nas ruas, a deputada federal Denise Frossard, candidata do PPS, ainda não escolheu seu tesoureiro. Ela afirmou que vai esperar ser procurada por empresas que se identificarem com suas propostas.

¿ A aliança tem um comitê financeiro que cuidará da arrecadação e da contabilidade. Será tudo extremamente transparente ¿ afirmou a candidata.

No Rio, o PT prefere o silêncio quando o assunto é financiamento de campanha. Procurado, o tesoureiro indicado pelo partido para cuidar das finanças da campanha de Vladimir Palmeira, Otacílio Santana, não quis dar entrevista. A assessoria de imprensa do partido informou que o teto será de R$7 milhões e que ele espera receber dinheiro do próprio partido, de militantes e de empresas identificadas com o programa de governo.