Título: TAXAS ELEVADAS SERVEM PARA ATRAIR INVESTIDORES
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Fonte: O Globo, 09/07/2006, Economia, p. 35
Segundo analistas, país ainda não se livrou da imagem de risco
BRASÍLIA. A inflação não é o único fator levado em consideração pelo Banco Central na hora de estabelecer os juros. Os componentes, dizem analistas, justificam em parte o fato de a taxa real estar tão elevada no país. Segundo o chefe de Pesquisa para a América Latina do WestLB, Ricardo Amorim, o mercado brasileiro ainda é considerado de risco, o que faz com que os investidores exijam prêmios muito elevados para aplicar em títulos da dívida.
¿ O Brasil já passou por muitos planos econômicos, mudanças de regras e até calote da dívida. Isso faz os investidores exigirem prêmio de risco alto. Esse é um problema que ainda vai nos prejudicar por muito tempo ¿ afirma Amorim, lembrando também que a dívida do país é de curto prazo, o que representa risco de rolagem.
O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Armando Castelar também destaca que a política fiscal é um fator que dificulta a queda dos juros no Brasil. Isso porque o governo não consegue reduzir suas despesas, o que acaba não apenas gerando dúvida dos investidores sobre a capacidade do país de honrar sua dívida de curto prazo, mas também provocando pressão sobre os preços.
¿ O Brasil tem um desequilíbrio entre política fiscal e política monetária ¿ destaca Castelar. ¿ Este ano, estamos colocando lenha na fogueira da inflação. O governo está aumentando gastos, sendo que, em 2007, uma série de fatores que ajudaram a manter a inflação sob controle não vão se repetir.
Necessidade de regras mais claras para mercado
Caio Megale, economista e sócio da Mauá Investimentos também aponta a política fiscal como um dos responsáveis pelos juros altos registrados no país:
¿ A estrutura fiscal brasileira é muito ruim.
Já a economista-chefe do ABN Amro, Zeina Latif, lembra que, como o governo tem dificuldades em melhorar a qualidade dos gastos público, o principal instrumento de controle da inflação fica nas mãos do Banco Central:
¿ O peso sobre a política monetária é muito grande ¿ ressalta Zeina.
A economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, diz que ainda faltam alguns ajustes para que o Brasil entre na linha dos demais emergentes e reduza mais fortemente suas taxas de juros. Segundo ela, essa redução só será possível a partir do momento em que o governo conseguir melhorar, não apenas sua estrutura de gastos, mas também tornar o mercado mais transparente, com regras claras para os investidores e para a competição entre as empresas instaladas no país. (Martha Beck)