Título: AGÊNCIA FAZ PEQUENO EXPORTADOR ATÉ DOBRAR VENDAS
Autor: Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 09/07/2006, Economia, p. 37

Centros da Apex-Brasil colocam produtos no exterior eliminando custos com distribuição e armazenagem

BRASÍLIA. O empresário Josias Inojosa de Oliveira Filho, presidente do Sindicato da Indústria de Gesso de Pernambuco, está eufórico com o fechamento de um negócio de 3,2 milhões para a exportação para Portugal. Ele lidera um consórcio de 23 pequenas empresas do Nordeste, que utiliza a infra-estrutura dos Centros de Distribuição de Produtos Brasileiros no Exterior (CDs) como porta de entrada de suas mercadorias nos EUA e, agora, na Europa.

Pequenas e médias empresas exportadoras estão multiplicando seus negócios no exterior com o uso desses centros montados pela Agência de Promoção de Exportações e Investimentos ¿ Apex-Brasil. A experiência começou em Dubai, nos Emirados Árabes, em forma de projeto-piloto, e foi estendida para os Estados Unidos e a Europa. A Apex já possui CDs em Miami, Frankfurt e Lisboa. Está reformulando e ampliando a unidade de Dubai, voltada para o mercado do Oriente Médio, e vai inaugurar este mês mais uma em Varsóvia, na Polônia, com foco no mercado do Leste europeu, recém-integrado à União Européia (UE).

Os centros atendem pequenas e médias empresas que enfrentam dificuldades em colocar seus produtos no exterior pelo alto custo de armazenagem e distribuição das mercadorias. Para essas empresas, montar uma estrutura própria é praticamente inviável economicamente e o uso de distribuidores nem sempre se mostra confiável e produtivo.

De Miami, grupo investe agora no CD de Lisboa

O consórcio de empresas de gesso, que acaba de fechar um negócio milionário com empresários portugueses para a exportação de minério de gesso, está instalado no CD de Miami desde o ano passado e tem espaço reservado no CD de Lisboa, inaugurado em junho, com foco nos mercados da Península Ibérica e do norte da África.

Inojosa diz que o setor não tinha experiência em exportação, embora o gesso produzido no Brasil seja considerado uma das matérias-primas mais puras do mundo. A partir da utilização do CD de Miami para a venda do produto, as exportações dessas pequenas empresas chegaram a US$2,5 milhões em 2005. Em 2006, a previsão é de US$3,5 milhões, um crescimento de 40%. Isso sem considerar o negócio fechado recentemente, que deve mais que duplicar o faturamento do consórcio.

¿ Os clientes são céticos. Nos centros, eles podem olhar, comprovar a qualidade do produto e em muitos casos já saem com a mercadoria na mão. É uma porta de entrada espetacular para qualquer empresa ¿ afirma Inojosa.

Só o CD de Miami atende 155 firmas. No total, o número de empresas brasileiras a serem atendidas pelos CDs sobe para 485 se consideradas as já cadastradas nos demais centros em fase de implantação na Europa e no Oriente Médio.

¿ O exportador, ou seu representante, fica no país importador. Isso assegura uma estrutura jurídica que melhora o relacionamento com clientes e consumidores. Os custos para as empresas que participam dos Centros de Distribuição são compartilhados, reduzindo as despesas ¿ explica o presidente da Apex, Juan Quirós.

CDs reduzem custos de logísticas no exterior

A Weril Instrumentos Musicais é uma empresa familiar de médio porte de Franco da Rocha, interior de São Paulo, que fabrica instrumentos de sopro. No fim de 2005, instalou-se no CD de Miami e viu suas exportações pularem de US$600 mil para US$1,1 milhão. O gerente de Exportações da Weril, Sérgio Rocha, diz que o objetivo da empresa é consolidar o mercado americano e ampliar as vendas para a Europa:

¿ Devemos nos instalar também no CD de Frankfurt, já que a Alemanha é o nosso principal mercado na Europa.

O pequeno empresário carioca César Reis, da HPlastic, fabrica o abaixador de língua Tic-Tong, desenvolvido especialmente para crianças. O produto já era exportado para países da América Latina, mas está ganhando o mercado americano. A empresa está instalada no CD de Miami e deve ir para Portugal no ano que vem. A previsão é exportar US$100 mil para os EUA este ano.

¿ É muito difícil colocar um produto no exterior. A logística é muito cara. O CD é uma oportunidade de exportar sem depender de um distribuidor ¿ afirma Reis.

Guilherme Aguiar, da Kanitz Cosméticos ¿ que tem uma fábrica no Engenho Novo, na Zona Norte do Rio ¿ aponta também a redução de custos como uma das principais vantagens de se instalar em um Centro de Distribuição no exterior.

¿ O custo de manutenção de um espaço de armazenagem nos EUA é praticamente inviável para uma empresa de pequeno ou médio porte. Chegaria a US$16 mil por mês, no mínimo ¿ afirma Aguiar.

No CD de Miami, a empresa paga um aluguel de US$800, mais uma taxa de armazenagem. A Kanitz espera aumentar em 40% suas exportações em 2006 com essa estratégia.