Título: Sou uma exilada do terror¿
Autor: Priscila
Fonte: O Globo, 09/07/2006, O Mundo, p. 44

¿Meu pai era responsável pela Telefônica em San Sebastián e foi assassinado, com seu guarda-costas, em 1982. Eu tinha 20 anos. Havia muito medo, as vítimas estavam caladas. Quatro anos depois criei um movimento contra o terrorismo. A polícia me telefonou em 2000, quando eu era porta-voz da Basta Já, grupo criado pelo filósofo Fernando Savater, dizendo que eu precisava de um guarda-costas, porque tinham encontrado meu nome na lista-negra do ETA.

Fiquei muito abalada. Tinha muitos amigos que tinham guarda-costas, conhecia muita gente nesta situação, e meu pai tinha sido morto tendo um escolta, mas você sempre pensa que isso acontecerá com os outros mas não com você.

Decidi deixar o País Basco. Vim para Madri. Sou uma exilada do terror. Sempre que vou ao País Basco levo um guarda-costas. É incrível porque me sinto, em primeiro lugar, basca, mas também espanhola, e sou orgulhosa das duas identidades. Quando me reconhecem no País Basco, me insultam, chamando-me de espanhola. No País Basco isso é um insulto.

Para que cheguemos a uma normalidade democrática é preciso calma. A desconfiança dentro do País Basco é muito profunda. Agora a atmosfera está mais relaxada, mas não totalmente. Ninguém fala de política, não se critica o ETA num bar.

O Batasuna não pode ser legalizado do dia para a noite. Sou contra esse processo. O governo diz que não fará concessões, mas solucionar a questão dos presos do ETA é uma concessão. Perdeu-se o sentido das palavras. Antes falávamos de derrota do ETA, de firmeza democrática, liberdade. Agora se fala de paz. Mas a paz é algo ambíguo. O Batasuna também fala de paz e faz pichações pela paz. A paz do Batasuna e a minha não têm nada a ver. Quero minha liberdade, quero deixar de ter medo, quero voltar ao País Basco sem guarda-costas. A solução não é a negociação. A solução é a pressão policial, a aplicação da lei, é a consciência social de que não temos que ceder.¿

Cristina Cuesta é diretora da Fundação Pró-Direitos Humanos Miguel Ángel Blanco (criada após o assassinato do vereador do PP Miguel Ángel Blanco)