Título: Podem guardar os conselhos¿
Autor: Priscila
Fonte: O Globo, 09/07/2006, O Mundo, p. 44

¿Não sou espanhol. Sou basco. Basco, de uma família que tem o euskera (idioma basco) como língua. Me impuseram o espanhol na escola. Não sou espanhol. Durante toda a vida tenho tentado argumentar e defender minhas posições sempre por meio da palavra. Sou professor universitário há 24 anos, fui professor em ikastolas (colégios que ensinam em euskera) e parlamentar duas vezes. Jamais usei a violência, mas fui detido nove vezes e preso duas vezes. Agora estou sendo processado.

Nós do Batasuna não somos o braço político do ETA nem de ninguém. Somos uma organização política, independente. Nunca utilizamos recursos violentos. O ETA é outra organização muito anterior ao Batasuna. Não existe nenhum vínculo orgânico entre o Batasuna e o ETA. O que existe é um fenômeno que vai além da política, que é também social e cultural, que se chama esquerda abertzale. Dela, fazem parte o ETA e o Batasuna, entre outras organizações.

Não queremos pertencer ao clube da democracia espanhola. Ninguém vai nos dizer o que falar, o que fazer, o que reprovar (os partidos Popular e Socialista exigem que o Batasuna condene publicamente a violência do ETA, como condição para sair da ilegalidade). Eles podem guardar seus conselhos. Mas agora existe uma situação nova. E, por conta disso, deveremos nos reorganizar, reedificar nosso partido, para voltar à legalidade o quanto antes possível.

Não desejamos que este processo que se inicia agora seja nem excessivamente longo, nem difícil. Esperamos que seja irreversível e avance positivamente. Esta negociação do ETA com o governo se limita a temas de desmilitarização. Mas existe um segundo nível de negociação, que se realizará entre todos os partidos. Neste debate se verá como se articula o direito à autodeterminação e ao reconhecimento do País Basco, com seus três milhões de habitantes. Essa é a questão crucial. E sem isso este chamado processo de paz não tem como ir adiante. Como isso seria retratado na Constituição? Não nos diz respeito. A Constituição espanhola não é nossa, não a aceitamos.¿

Karmelo Landa é membro do Batasuna