Título: Acho que vale a pena apostar¿
Autor: Priscila
Fonte: O Globo, 09/07/2006, O Mundo, p. 44

¿Meus pais lutaram contra a ditadura de Franco e se exilaram em Paris após a guerra civil espanhola (seu pai, Francisco Landaburu, era vice-presidente do governo basco) e nasci e vivi 20 anos no exílio. No princípio dos anos 1970 voltei ao País Basco e me dediquei ao jornalismo. Era um momento muito interessante, porque estávamos em plena transição democrática. Mas, nestes últimos 40 anos, lutamos contra outra ditadura, a das armas terroristas do ETA.

Assisti, como repórter, a um enterro a cada três dias. Sempre tive clareza sobre minhas opiniões e sempre acreditei na liberdade de expressão. Mas em 1983 recebemos a primeira ameaça na redação da revista `Cambio 16¿, onde trabalho até hoje e da qual sou diretor. Na carta, o ETA dizia que não comungava com os termos que usávamos na revista, tais como dizer que terrorismo é terrorismo, que um crime é um crime e que um assassinato é um assassinato. O ETA afirmava ainda, de maneira arrogante, que aguardássemos as conseqüências. Sempre sofri ameaças até o dia que, em 2001, o ETA me mandou uma carta-bomba com 150 gramas de dinamite, que me mutilou os dedos das mãos e me deixou cego do olho esquerdo.

Antes do atentado eu tinha um guarda-costas e agora tenho dois. Vivo em semi-liberdade. Não posso sair para comprar o jornal ou tomar uma cerveja. Já vivemos outras tréguas e muitas tragédias, já enterrei muitos amigos vítimas do ETA, mas agora, pela primeira vez, sinto que estamos perto do fim da violência do ETA. Não peço que ETA ou Batasuna, que têm o apoio de cerca de 15% da população, renunciem à sua ideologia. Me parece muito bom que queiram a independência do País Basco, mas devem defendê-la sem armas nem bombas. Com a negociação, a libertação dos presos pode demorar três, quatro ou cinco anos e esse seria o único preço que teríamos que pagar. Nós, as vítimas do ETA, teremos que engolir este sapo. Mas se isso garante a paz que queremos para nossos filhos, para nossos netos e para esta sociedade, acho que vale a pena apostar.¿

Gorka Landaburu é jornalista