Título: ESTE REAJUSTE É POLITIQUEIRO¿
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 11/07/2006, O País, p. 3

Presidente diz que não pode ter `preocupação político-eleitoral¿

BRASÍLIA. Chamando de politiqueira a decisão do Congresso de conceder reajuste de 16,67% para os aposentados que ganham acima de um salário-mínimo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva justificou sua decisão de vetar o aumento ontem, durante almoço no Itamaraty, afirmando que não pode se preocupar com um eventual desgaste eleitoral. Para os aposentados e pensionistas do INSS que recebem mais de um salário-mínimo, a proposta do governo é de um reajuste de 5%.

¿ Eu não posso ficar preocupado com problemas político-eleitorais. Tenho que ter responsabilidade orçamentária, e não há recursos no Orçamento para este reajuste ¿ disse Lula, referindo-se ao gasto extra de R$7 bilhões que o reajuste de 16,67% para todos os aposentados provocaria nas contas do Tesouro só este ano.

¿Os aposentados nem reivindicaram¿

Evitando demonstrar preocupação com um eventual desgaste eleitoral decorrente do veto, o presidente Lula recordou que o aumento do salário-mínimo para R$350, que representa um reajuste real de 13%, foi negociado pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, com todas as centrais sindicais. Da mesma forma que o reajuste de 5% foi resultante de acordo do Ministério da Previdência com diferentes associações de aposentados.

¿ De repente as pessoas lá no Congresso resolveram incluir coisas impossíveis na medida, como este aumento. Elas conhecem o Orçamento, sabiam o que estavam fazendo. Este reajuste é tão politiqueiro que nem os aposentados reivindicaram. Eu tinha que vetar, tenho que ter responsabilidade, a Previdência já tem um rombo muito grande ¿ afirmou Lula, após almoço oferecido ao presidente de Gana, John Agyekum Kufuo.

Lula defende a entrega de cargos

Perguntado se não teme perder votos de aposentados, Lula evitou novamente tratar das conseqüências eleitorais:

¿ O ministro da Previdência vai explicar tudo, vai mostrar os números, não será difícil compreender isso ¿ afirmou.

Outro assunto que o presidente comentou foi a entrega da presidência e de diretorias dos Correios ao PMDB, que ontem levou o apoio da maioria dos diretórios estaduais à sua candidatura. O presidente deu a entender que o modelo de ocupação vertical dos ministérios ¿ ou a ¿porteira fechada¿, como é conhecido no jargão político ¿ é o que ele adotará agora na composição com partidos aliados.

¿ Não me incomodo com as críticas, mas não há nada de novo nisso. O PMDB é da base de apoio ao governo, participa do governo e já tem o Ministério das Comunicações. É natural e justo que tenha o comando de todo o ministério que já ocupa. Sempre foi assim. Governo de coalizão é isso, todo mundo sabe, e o PMDB participa da coalizão do governo.

¿ Mas logo nos Correios, onde estourou o esquema de corrupção do PTB que deu origem a toda a crise do valerioduto? ¿ perguntaram os jornalistas.

¿ Agora foi nos Correios, amanhã pode ser na Saúde ou qualquer outro ministério. Sempre foi assim ¿ defendeu o presidente.

Perguntado sobre a reunião que teve anteontem à noite com dirigentes petistas, Lula confirmou tê-los chamado para dar-lhes tarefas de campanha em seus estados. Alegando que, como presidente, não poderá fazer campanha intensamente, como sempre fez, disse:

¿ Se eles não fizerem, quem vai fazer? O vizinho?

Lula evitou, porém, reclamar da Lei Eleitoral quando perguntado se se sentia incomodado com as limitações impostas ao presidente que disputa a reeleição no cargo:

¿ Incomodado eu não diria, mas é uma experiência nova. É diferente.

Auxiliares e aliados, entretanto, dizem que ele está incomodado a ponto de dizer que agora ainda é mais contrário à reeleição, embora vá disputá-la. Se reeleito, proporia na reforma política o fim da recondução ao cargo.

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