Título: ANALISTAS PREVÊEM INFLAÇÃO DE 3,81% ESTE ANO E JUROS RECUAM NO MERCADO
Autor: Patricia Duarte e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 11/07/2006, Economia, p. 20

Após novo leilão de compra de dólar pelo BC, moeda fecha estável. Bolsa sobe

BRASÍLIA e RIO. A deflação registrada pelo IPCA em junho fez com que o mercado continuasse a revisar para baixo as projeções para a variação dos índices de preços deste ano. A estimativa mais otimista garantiu a tranqüilidade do mercado financeiro ontem, mesmo em meio ao clima mais negativo vindo dos EUA, onde a corretora Merrill Lynch reduziu a recomendação para os papéis do setor de telecomunicações, fazendo a bolsa eletrônica Nasdaq cair 0,61%. A perspectiva de juros menores também fez as taxas projetadas no mercado futuro brasileiro recuarem fortemente: no contrato mais negociado, com vencimento em janeiro de 2008, os juros caíram de 14,86% para 14,78% ao ano.

Pesquisa Focus do Banco Central (BC), divulgada ontem, mostrou que a previsão para o IPCA em 2006 está agora em 3,81%. Esta foi a sexta revisão para baixo consecutiva. Na semana passada, o mercado esperava que a inflação ficasse em 3,98%. Em junho, o índice, calculado pelo IBGE, teve variação negativa de 0,21%, a primeira do ano, influenciada pelo recuo nos preços de álcool e gasolina.

Com isso, a expectativa é que a taxa Selic feche 2006 a 14,25% ao ano, abaixo dos 14,38% vistos na semana passada na pesquisa Focus. Isso reforça as projeções dos especialistas de corte de 0,50 ponto percentual na Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima semana, caindo dos atuais 15,25% para 14,75% ao ano.

Banco vê taxa Selic de 14% em dezembro e IPCA de 3,7%

A economista Emy Shayo, do banco Bear Stearns, está mais otimista que a média de mercado e ontem reduziu suas projeções para a inflação. Ela estima que o IPCA fechará o ano em 3,7% ¿ a aposta anterior era de 4,5% no fim de 2006. Em relatório enviado a clientes, Emy explica que os recentes reajustes nas tarifas de telefonia e eletricidade (abaixo das expectativas do banco) justificam a mudança nas estimativas. Também em relação à taxa Selic, as projeções do banco estão abaixo das do mercado: 14% ao ano em dezembro de 2006.

Ontem, no mercado financeiro, a queda do petróleo, o superávit da balança comercial e os bons números da pesquisa Focus fizeram os indicadores recuperarem, durante o dia, parte das perdas da última sexta-feira. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) chegou a subir 0,82% e o dólar caiu 0,60% na mínima, mas o mau humor do mercado americano acabou reduzindo parte do otimismo. A Bolsa fechou em alta de 0,11% e o dólar ficou estável em R$2,182 após novo leilão de compra de moeda pelo Banco Central. O risco-Brasil caiu 0,82%, para 243 pontos centesimais.

A pesquisa Focus divulgada ontem mostrou ainda que, pela segunda semana seguida, o mercado também puxou para baixo suas estimativas para o câmbio, de R$2,24 para R$2,23. Há algumas semanas, o mercado viveu momentos de forte turbulência, com temor de alta expressiva da taxa de juros nos Estados Unidos.