Título: MORRE O INIMIGO Nº 1 DA RÚSSIA
Autor:
Fonte: O Globo, 11/07/2006, O Mundo, p. 24

Explosão mata líder separatista checheno que ordenou ataque a escola em Beslan

MOSCOU

Adetonação de explosivos que rebeldes chechenos carregavam num caminhão numa remota aldeia no Cáucaso livrou ontem a Rússia de seu maior inimigo, o líder separatista Shamil Basayev, responsável por alguns dos mais sangrentos ataques terroristas no país na última década. A morte de Basayev, de 41 anos, deflagrou uma batalha de versões entre Moscou e os rebeldes, com o Kremlin afirmando que ela foi resultado de uma operação de suas forças especiais e a guerrilha chechena dizendo que foi um acidente.

Segundo a TV estatal russa, rebeldes carregavam o caminhão na aldeia de Ekajevo, na república da Inguchétia, vizinha à Chechênia, quando ocorreu a explosão. Já era o início da madrugada de ontem na região e os moradores assistiam à final da Copa do Mundo na Alemanha. Basayev, que tinha um prêmio de US$10 milhões sobre sua cabeça oferecido pelas autoridades russas, estaria num carro perto do caminhão. Entre três e 12 rebeldes, segundo a fonte, também teriam morrido.

¿ Todos os que estavam no raio da explosão foram feitos em pedaços ¿ disse Beslan Khamkhoyev, do Ministério do Interior da Inguchétia, uma das repúblicas da Federação Russa no Cáucaso.

As fontes do governo russo, no entanto, não deram indicações de como as forças especiais teriam causado a explosão que matou Basayev.

Beslan: 331 mortes em ataque a escola

A prótese que o líder checheno usava no lugar de uma de suas pernas, arrancada por uma mina antipessoal em 2000, foi encontrada, disseram fontes do governo russo, assim como sua cabeça. Segundo as autoridades, Basayev preparava-se para realizar um grande atentado a fim de roubar a cena da reunião de cúpula do G-8 que o presidente Vladimir Putin vai organizar no fim de semana em São Petersburgo. Entre outros atentados de grande impacto, o líder checheno fora responsável pelo ataque à escola em Beslan, na Ossétia do Norte, em setembro de 2004, em que morreram 331 pessoas (mais da metade delas crianças) durante a operação de resgate. Com o fim de Basayev, o já popular Putin reforça ainda mais seu prestígio interno.

¿ Esta é a retribuição merecida pelos bandidos por causa de nossas crianças em Beslan, por todos os atos de terror que eles cometeram em Moscou e em outras regiões russas ¿ disse o presidente, que chegou ao poder em 2000 prometendo mão firme contra a guerrilha separatista chechena.

Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, aliado de Putin, reagiu favoravelmente à morte de Basayev, que de líder separatista transformou-se em chefe terrorista com ataques a uma escola, um hospital e um teatro em seu currículo de sangue.

¿ Se ele é de fato a pessoa que ordenou a matança de crianças em Beslan, ele mereceu ¿ disse Bush.

Já o site dos separatistas na internet, Kavkaz Center, afirmou que a explosão do caminhão foi espontânea e não houve envolvimento de forças de segurança russas na morte do líder checheno, pondo em dúvida a versão do Kremlin: ¿Shamil Basayev e os outros irmãos nossos se transformaram em mártires por vontade de Deus¿, sustentou o porta-voz rebelde Abu Umar. ¿Quanto a operações especiais, os mujahedins mostrarão como elas devem ser conduzidas¿ ameaçou ele, referindo-se aos militantes muçulmanos que assumiram a dianteira da luta pela independência da Chechênia da Rússia.

Em Londres, o enviado rebelde checheno Akhmed Zakayev reforçou a informação à rádio russa Ekho Moskvy:

¿ Acho que foi um acidente fatal ¿ disse.

Para alguns analistas, a morte de Basayev representará um golpe severo na insurgência chechena.

¿ É como se o Bin Laden tivesse sido eliminado no Afeganistão ¿ disse Alexander Rahr, especialista em Rússia do Conselho Alemão de Relações Exteriores, referindo-se ao chefe da rede terrorista al-Qaeda.

A morte de Basayev foi a segunda de um líder checheno em dois meses: em junho, Abdul-Khalim Saydullayev, chamado de ¿presidente¿ pelos rebeldes, também fora morto. Isso, no entanto, não deverá representar o fim da guerrilha chechena, que há mais de dez anos enfrenta Moscou num sangrento confronto que já resultou em dezenas de milhares de mortes de ambos os lados.