Título: NA ASSEMBLÉIA DO RIO, 87% DISPUTAM REELEIÇÃO
Autor: Claudia Lamego
Fonte: O Globo, 12/07/2006, O País, p. 15

Presidente da Casa e mais 11 políticos são suspeitos de crimes contra a ordem financeira e lavagem de dinheiro

Renovação é palavra fora do vocabulário dos deputados da Alerj. Dos 70 parlamentares da atual legislatura, 61 (87,14%) pretendem se manter na Casa em 2007, outros seis tentarão uma vaga de deputado federal em Brasília e apenas dois não vão concorrer a qualquer cargo eletivo. Ou seja, 97,14% vão disputar eleições em outubro.

Entre os que buscam um novo mandato, cinco são investigados por supostos crimes contra o consumidor, contra a administração pública e contra o patrimônio, de sonegação fiscal e de lavagem de dinheiro; um escapou de cassação por quebra de decoro e outro exerce o mandato por força de liminar e é suspeito de envolvimento num assassinato.

O presidente da Casa, Jorge Picciani, e mais 11 políticos da Alerj, entre os quais quatro do atual mandato e que concorrem à reeleição, são investigados em inquérito aberto pela Polícia Federal a pedido do procurador-chefe Celso de Albuquerque Silva, da Procuradoria Regional da República da Segunda Região. São suspeitos de cometer crimes contra a ordem financeira e lavagem de dinheiro. A reportagem do GLOBO "Homens de bens da Alerj", publicada em 2004, mostrou a evolução patrimonial de 113 deputados do Rio, de 1996 a 2001, e revelou que 27 aumentaram o patrimônio em mais de 100%.

Com Picciani, figuram na lista do inquérito aberto pela PF Domingos Brazão (PMDB), também investigado pelo Ministério Público Estadual por suposto envolvimento na máfia de combustíveis, José Nader (PTB), Eliana Ribeiro (PMDB) e Coronel Jairo (PSC).

Casa tem perfil clientelista

Alessandro Calazans (PMN) também é investigado por supostamente atuar na máfia dos combustíveis. Em abril de 2005, escapou da cassação em plenário. Presidente da CPI da Loterj/Rioprevidência, ele tinha sido flagrado tentando negociar um acordo para retirar o nome do empresário de jogos Carlos Cachoeira do relatório final.

Já o deputado Marcos Abraão foi cassado pelos colegas, mas continua exercendo o mandato por meio de uma liminar. Abraão (PSL) é suspeito de envolvimento na morte do parlamentar Valdeci Paiva (PSL), de quem era suplente. Ele nega participação no crime.

Todos os deputados das bancadas do PMDB, PL, PDT, PAN, PMN, PP, Prona, PSC, PSDC, PSL, PTB e do PV vão disputar a reeleição. Edmilson Valentim (PCdoB), Cida Diogo (PT), Leandro Sampaio e Paulo Pinheiro (PPS), Léo Vivas (PRB), Andreia Zito (PSDB) concorrerão a uma vaga de deputado federal.

Em seu quarto mandato, Sivuca, o deputado conhecido pelo lema polêmico "bandido bom é bandido morto", tentará eleger o filho, Silvio Sivuca. Sérgio Soares também não concorrerá à reeleição e planeja voltar à Prefeitura de Itaboraí em 2008. Já Eider Dantas (PFL) concorrerá a vice-governador na chapa de Denise Frossard (PPS).

Em 2002, a renovação foi de 54% das cadeiras. Para o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, a tendência é que muitos consigam a reeleição. Diretor do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), ele lembra que o voto costuma se dar com base na atuação do deputado em suas regiões e nos que representam determinado segmento.

- A Alerj tem um perfil muito regionalista e clientelista. A Casa representa a política do interior. Os deputados atuam como vereadores estaduais e, como dependem da boa vontade dos governos, apóiam todos. É uma instituição esvaziada, praticamente um órgão do governo.