Título: CHAVISTAS ADMITEM CORRUPÇÃO NO GOVERNO
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 12/07/2006, O Mundo, p. 34

Deputado venezuelano cria movimento para dar maior transparência ao processo político

BUENOS AIRES. A revolução bolivariana do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não conseguiu acabar com a corrupção no país. A afirmação não surgiu de movimentos opositores e sim dos próprios chavistas que, a menos de seis meses das eleições, decidiram fazer uma autocrítica e depurar o processo político venezuelano.

Liderados pelo deputado Eustaquio Contreras, um grupo de seguidores do presidente venezuelano fundou recentemente o movimento Consciência Revolucionária, que, segundo explicou Contreras ao GLOBO, busca "dar clareza ética e ideológica" à revolução chavista.

- Chávez é um grande presidente, mas não está bem acompanhado - assegurou o deputado, por telefone, de Caracas.

Sua opinião coincide com a de muitos venezuelanos, que começam a questionar a falta de transparência do governo. Chávez continua sendo poupado. De acordo com pesquisa realizada pela empresa de consultoria Hinterlaces, a corrupção integra a lista das cinco principais preocupações dos venezuelanos.

- Em primeiro lugar temos a delinqüência, em segundo, o desemprego, e em terceiro a corrupção. Os chavistas culpam os colaboradores do presidente, reclamam da falta de resultados concretos e, sobretudo, da falta de transparência - explicou o diretor da Hinterlaces, o analista venezuelano Oscar Schémel.

Segundo a pesquisa, 77% dos venezuelanos consideram que o governo chavista é corrupto e ineficiente.

- Para 65% dos entrevistados, a situação do país está igual ou pior do que antes de Chávez. Mas a intenção de voto a favor do presidente é de 53% e hoje não existe um candidato capaz de derrotá-lo. Por quê? Porque as pessoas sobrevalorizam as qualidades humanas do presidente e minimizam seus erros - enfatizou Schémel.

Escândalos de corrupção vêm a público

No dia 13 de agosto, vários dirigentes participarão de uma eleição interna para escolher um candidato único da oposição nas eleições presidenciais de dezembro. Mas nem todos os candidatos aceitaram a proposta. O jornalista Teodoro Petkoff, por exemplo, questionou a forma como foi organizada a eleição e decidiu não participar.

Os chavistas sabem que a oposição não tem chances de desafiar o governo nas eleições. Mas também estão cientes das crescentes críticas ao processo revolucionário. A revista opositora "Exceso", por exemplo, publicou uma reportagem sobre o suposto enriquecimento de alguns funcionários chavistas nos últimos anos. Outro dos escândalos mais recentes envolveu o juiz do Supremo Tribunal, Luis Velázquez Alvaray, forte aliado do governo, em gravíssimas denúncias de corrupção.