Título: A REPETIÇÃO DA AFRONTA
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 13/07/2006, O País, p. 3

Crime organizado faz 73 ataques em 21 cidades de São Paulo e mata nove pessoas

Ocrime organizado, de dentro dos presídios, voltou a ordenar ataques a alvos civis e militares em São Paulo ontem, exatamente dois meses depois da primeira onda de terror no estado. Foram 73 atentados em 21 municípios, a maioria na Região Metropolitana e na Baixada Santista. Nove pessoas foram mortas ¿ sete agentes de segurança, a irmã de um policial militar e o filho de um carcereiro. Bases da polícia, casas de policiais, agências bancárias, supermercados, concessionárias de automóveis e ônibus foram atacados. Segundo balanço da Secretaria de Segurança Pública, os ataques começaram no fim da noite de anteontem e continuaram durante todo o dia ontem. Sete pessoas foram presas por suspeita de participar de assassinatos de policiais e ataques a ônibus.

Os novos ataques, segundo o secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho, teriam sido provocados pela divulgação de uma lista de 40 presos da facção criminosa que atua nos presídios de São Paulo. Os presos supostamente seriam transferidos de prisões paulistas para a penitenciária federal de segurança máxima de Catanduvas (PR). Segundo Saulo, que negou a existência da lista, a preocupação com as transferências foi constatada em conversas de presos captadas por escutas telefônicas feitas pela polícia:

¿ A publicação dessa lista com a possível remoção inspirou esse movimento. Como se fosse uma forma de dizer: ou isso pára, não se remove, ou vai ter um recrudescimento (da violência). Mas garanto que essa lista não existe, é um desserviço à segurança pública e à sociedade. É falsa.

Diferentemente das ações de maio, a maioria dos ataques de ontem foi contra alvos civis. Segundo o balanço da Secretaria de Segurança, 41 ônibus foram incendidos, 12 agências ou caixas eletrônicos, seis revendedoras de veículos, cinco bases ou carros da Guarda Municipal e duas bases da Polícia Militar foram atacados.

¿ Metade das ocorrências foi contra ônibus e caixas eletrônicos de bancos ¿ disse o comandante da PM, coronel Elizeu Eclair.

Seis policiais foram assassinados na capital paulista e na Baixada Santista, e um guarda municipal em Cabreúva, região de Campinas. Segundo a Secretaria de Segurança, morreram um policial militar e a irmã dele, na Zona Norte; o filho de um carcereiro, baleado em São Vicente, na Baixada Santista; três vigilantes particulares no Guarujá; ex-soldado da PM, na Zona Norte. Até o final da noite de ontem, os números da Secretaria de Segurança admitiam apenas seis mortos, pois não incluíam a irmã do PM. Rita de Cássia Lorenzi, de 39 anos, levou um tiro na cabeça, quando levantou, de madrugada e olhou na janela para ver o que havia acontecido ao irmão, o soldado Odair José Lorenzi, de 29 anos, assassinado com várias tiros quando abriu a porta da casa para atender uma mulher. Outros dois PMs foram feridos pelos bandidos.

Ataques usam táticas de guerrilha

Quatro dos sete suspeitos presos ontem, segundo o coronel Eclair, foram encontrados graças a uma denúncia de um agente penitenciário. Apontado como chefe da facção na região do ABC paulista, Emivaldo Silva Santos, o BH, de 30 anos, foi um dos presos, na noite da terça-feira, em operação conjunta da PM com a Polícia Civil, na Rodovia dos Imigrantes. Segundo Saulo Abreu, os ataques não têm relação com a prisão de BH mas com a suposta lista de transferidos.

Outro preso foi Elias Milton de Oliveira, de 21 anos, que incendiou cinco carros numa concessionária na Mooca. Ele foi preso por funcionários de um posto de gasolina e entregue à PM. Chegou a ser liberado, mas foi preso em seguida por incêndio e formação de quadrilha. A polícia descobriu que ele recebeu ordem por celular para fazer o ataque. Ele tinha de atacar supermercados, bancos ou concessionárias e escolheu seu alvo. Havia cumprido pena por tráfico de drogas.

As ações contra alvos civis foram comparadas à guerrilha. Marcos Herbas Camacho, o Marcola, chefe da quadrilha, está preso na penitenciária de Presidente Bernardes, a 590 quilômetros da capital, onde também cumpre pena de 30 anos o chileno Maurício Hernandez Norambuena, chefe do grupo que seqüestrou o publicitário Washington Olivetto em 2001. Norambuena teria inspirado os novos ataques, segundo a polícia.