Título: CPI DAS ARMAS INVESTIGA 34 ADVOGADOS
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 13/07/2006, O País, p. 12

Defensores são suspeitos de ligação com facção criminosa que ataca SP

BRASÍLIA. A CPI do Tráfico de Armas investiga 34 advogados suspeitos de ligação com o crime organizado, a maioria deles com a facção criminosa que comanda a série de atentados em São Paulo. Até agora, 14 deles já tiveram a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico aprovada pela comissão.

Eles são acusados de atuar como pombos-correios do crime, levando armas, drogas e celulares para dentro dos presídios, e de movimentar em suas contas dinheiro da organização.

Os advogados a serviço do crime foram duramente criticados pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

¿ Uma pessoa que tem o título de advogado e que se presta à co-autoria de crimes não é advogado, é criminoso e tem que ser punido pela Justiça e pela nossa corporação da OAB ¿ disse o ministro da Justiça.

O relator da CPI, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), disse que a comissão pedirá o indiciamento dos advogados pelos crimes de formação de quadrilha e associação para o tráfico, entre outros. O relatório final deverá ser entregue em setembro.

Pistas podem levar à conta-mãe da facção

A CPI acredita que a movimentação bancária desses advogados contém pistas que podem levar às chamadas contas-mãe da facção criminosa. Segundo o presidente da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), por essas contas circulariam os recursos usados para a compra e venda de drogas e também para o pagamento dos advogados e de propina a policiais e agentes penitenciários.

Ontem, integrantes da CPI ouviram na sede da Polícia Federal dois advogados presos sob a acusação de ligação com a facção criminosa paulista. Eduardo Diamante foi flagrado numa escuta telefônica dizendo a um criminoso da organização que providenciou a entrada num presídio de São Paulo de três celulares e de R$15 mil.

Diamante foi preso em seu escritório, onde foram encontrados R$10 mil. Ele negou as acusações, mas não convenceu os deputados.

¿ Ele mostrou ser uma pessoa fria, não demonstrou qualquer emoção. A CPI ficou convencida de que ele é da facção criminosa e há muito tempo ¿ disse Torgan.

No fim do depoimento, o advogado acabou admitindo que é sócio do detento Bruno Pacine numa empresa de fabricação de bolas ¿ Pacine cumpre pena em São Paulo por homicídio em regime semi-aberto. A empresa de Diamante e Pacine é suspeita de participar de um esquema surpreendente para levar armas e drogas para dentro dos presídios.

¿ As bolas eram encomendadas pela empresa e eram costuradas pelos presos e vendidas no mercado. Só que muitas voltavam para os presídios com a desculpa de que estavam com defeito e precisavam ser consertadas. Mas entravam nos presídios com armas e drogas ¿ explicou Moroni Torgan.

Segundo o presidente da CPI, a empresa encomendava mensalmente 30 mil bolas a presos de oito penitenciárias e cerca de 500 bolas retornavam aos presídios para serem consertadas. Diamante nega as acusações.

Advogado entrou no presídio com seis celulares

O segundo advogado ouvido pela CPI do Tráfico de Armas, Nelson Roberto Vinha, foi preso em flagrante na penitenciária de Mauá, no interior de São Paulo, ao entrar com seis telefones celulares e carregadores, apreendidos com seis presos que se reuniram com ele no parlatório da cadeia. Vinha também negou as acusações.