Título: DROGA ESTÁ ESCASSA NAS FAVELAS
Autor: Antonio Werneck
Fonte: O Globo, 13/07/2006, Rio, p. 15

Segundo a PF, facção queria recuperar rendimentos e poder

A remessa de cocaína apreendida ontem, segundo a Polícia Federal, era uma tentativa desesperada de uma determinada facção criminosa de recuperar fôlego financeiro e poder nos morros do Rio. O tráfico está com dificuldades de trazer cocaína para o Rio e a droga está ficando escassa, segundo as polícias Federal e Civil. Desde 2003, a PF não apreendia uma grande carga destinada às favelas.

Dados da Coordenação Geral de Polícia de Repressão a Entorpecentes, unidade da PF em Brasília especializada no combate ao tráfico no país, confirmam que as apreensões de cocaína e maconha na Região Sudeste caíram nos últimos cinco anos. Em 2000, foram apreendidas 25 toneladas de cocaína e 121 de maconha nos estados do Rio, de São Paulo e Minas Gerais. No ano passado, as apreensões na região despencaram para quatro toneladas de cocaína e 17 de maconha.

Com menos cocaína para vender, os traficantes estão mais violentos e buscando outras fontes de renda. Isso justificaria o aumento nos índices dos crimes contra o patrimônio no estado. Pesquisadores do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Cândido Mendes, identificaram esse aumento. O assalto a transeunte, por exemplo, passou de 17.884 casos em 2003 para 36.080 em 2005. O número de assaltos em ônibus subiu de 4.653 (em 2003) para 7.469 (em 2005) e o de seqüestro relâmpago pulou de 26 para 110.

¿ A partir de 2003, notamos que os registros de apreensão de drogas no estado caíram, assim como os registros de apreensão de armas. Enquanto isso, o número de crimes contra o patrimônio aumentou ¿ disse a economista e antropóloga Leonarda Musumeci, do Cesec.

O delegado Victor César Santos, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF no Rio, disse que, para evitar o transporte de drogas em grande quantidade, os traficantes mudaram de estratégia: montaram depósitos em São Paulo e Minas Gerais e usam ¿mulas¿ que trazem cocaína e maconha em pequenos carregamentos. No lugar de carretas com fundos falsos, a PF tem se deparado mais com desempregados transportando, de ônibus, cocaína e maconha na mala. O ¿tráfico formiguinha¿ cresceu.