Título: AQUECIMENTO E REAJUSTES
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 13/07/2006, Economia, p. 23

FGV diz que mais empresas vão expandir produção e elevar preços nos próximos meses

As empresas apostam em aquecimento da atividade econômica no início deste segundo semestre, com ampliação da produção, vendas e do nível de emprego. Mas esse cenário positivo também deverá abrir espaço para novos reajustes de preços no atacado, compensando a variação de apenas 0,09% nos últimos 12 meses. Este é o resultado preliminar da nova Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Os dados se referem ao período de julho a setembro e consideram uma amostra de 513 empresas, com faturamento global de R$169,9 bilhões.

Pela pesquisa, o nível atual de demanda foi considerado forte por 12% das empresas e fraco por 24%, contra 8% e 29%, respectivamente, na pesquisa feita em julho do ano passado. O saldo de -12 pontos percentuais entre as duas pontas foi o segundo melhor desde julho de 2001, perdendo apenas para julho de 2004 (10 positivos). Já o nível de estoques foi avaliado como insuficiente por 2% dos entrevistados (contra 1% na sondagem feita em abril) e excessivo por 13% (comparado a 16% antes).

As previsões para os próximos meses também indicam maior otimismo por parte do setor industrial. Dos entrevistados, 50% prevêem produzir mais no trimestre julho-setembro, enquanto 14% projetam diminuição do ritmo de negócios. O saldo de 36 pontos é pouco inferior ao de julho do ano passado (38 pontos), mas supera a média história de 34 pontos para este item registrada pela FGV nos últimos dez anos.

Empresas vão contratar mais

Em relação ao emprego, 25% das empresas pretendem ampliar seu contingente de mão-de-obra e 8% falam em corte de funcionários. O saldo de 17 pontos entre as duas respostas só é inferior para os períodos de julho de 2000 (25 pontos) e julho de 2004 (24 pontos). Responsável pela pesquisa, o economista Aloisio Campelo disse que esse quadro reflete a decisão do governo de afrouxar a política monetária, com reduções mais fortes dos juros desde setembro do ano passado:

¿ Os resultados corroboram a tendência de reaquecimento da atividade industrial. Ainda não é um quadro de aquecimento forte, de explosão, mas não há dúvidas de que a indústria caminha para um patamar maior do que no começo do ano.

Segundo Campelo, os sinais desse reaquecimento, que começaram a aparecer no início do ano, ficaram mais fortes a partir deste terceiro trimestre. Um risco potencial para esse quadro seria, na sua opinião, o descontrole dos gastos públicos. Por isso, Campelo evita falar em crescimento sustentado.

¿ Nos últimos meses, houve menos parcimônia com os gastos, o que a médio prazo pode trazer problemas. Além disso, o superávit nas contas continua sendo alcançado muito em função do aumento de impostos.

Apostando no reaquecimento do mercado interno, os empresários vêem espaço para novos aumentos de preços no atacado. Das 513 companhias consultadas pela FGV, 25% responderam que pretendem reajustar seus preços nos próximos três meses, contra 19% na pesquisa feita em janeiro e 24% em abril. Já o percentual dos que projetam estabilidade ou queda de valores passou de 16%, no início do ano, para 20% em abril e para apenas 8% agora em julho.

Empresários fariam ajuste na margem

Campelo afirmou que a mudança de rota era previsível, dada a deflação de preços no atacado nos últimos meses. Assim, os empresários pretenderiam fazer agora um ajuste. Ele disse ainda que os reajustes não colocam em risco o controle da inflação.

A FGV também mediu a situação atual dos negócios, que considera o crescimento da produção física, lucro e aumento da fatia de mercado das empresas. O otimismo declarado em relação ao comportamento geral da economia dá lugar, aqui, a uma insatisfação dos empresários. Eles se queixam de perda de rentabilidade.

O quadro atual foi apontado como bom por 16% dos entrevistados e fraco por 27%. Em julho de 2005, os resultados eram 19% e 33%, respectivamente. Para Campelo, é possível que nas empresas a margem de lucro ainda não tenha se elevado o suficiente devido à forte valorização do real, que tira competitividade de produtos nacionais frente a estrangeiros.