Título: BOMBARDEIO MATA 9 DA MESMA FAMÍLIA
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Fonte: O Globo, 13/07/2006, O Mundo, p. 30
Chefe do Hamas, mulher e 7 filhos morrem em ataque israelense em Gaza
CIDADE DE GAZA. Numa ampliação da ofensiva militar na Faixa de Gaza, blindados israelenses cortaram em dois o território palestino ontem de madrugada e ataques aéreos e de artilharia mataram 23 pessoas, incluindo nove membros de uma mesma família. Ontem à noite, o Ministério do Exterior foi atacado na Cidade de Gaza e pegou fogo num bombardeio com mísseis que deixou pelo menos dez feridos.
O ataque mais polêmico foi a um prédio residencial nos arredores da capital, onde segundo fontes militares israelenses líderes do grupo radical Hamas estariam em reunião. O alvo era Mohammad Deif, chefe das Brigadas Izzedine al-Qassam, a ala militar da organização. Israel disse que ele foi ferido no bombardeio, mas o Hamas negou a informação. Na ação, no entanto, morreram um líder local do grupo, Nabil Abu Selmeya, sua mulher e sete filhos com idades entre 7 e 19 anos, segundo fontes médicas palestinas. Apenas o filho mais velho, que não estava em casa, sobreviveu. Ao todo, 35 pessoas ficaram feridas.
Israel afirmou ter realizado o ataque ao prédio porque seu serviço de inteligência indicou a realização da reunião de líderes que estariam planejando atentados. E acusou os palestinos de usarem civis como escudos humanos.
¿ O fato de que o encontro de Deif com os outros aconteceu num prédio residencial é uma indicação de que eles pretendiam usar os moradores como escudos humanos para se protegerem ¿ justificou um porta-voz das Forças Armadas.
Ataque semelhante em 2002 matou mulheres e crianças
Deif já escapou a várias tentativas de assassinato seletivo por parte de Israel. Ele se tornou líder da ala militar do Hamas depois que seu antecessor foi morto num ataque semelhante ao de ontem em 2002, quando a aviação israelense jogou uma bomba de uma tonelada num prédio na Cidade de Gaza, matando 14 pessoas, a maioria mulheres e crianças. A atual ofensiva israelense em Gaza tem por objetivo libertar o cabo Gilad Shalit ¿ seqüestrado no fim do mês passado num ataque em que morreram três militares de sua unidade na fronteira ¿ e pôr fim aos disparos de foguetes al-Qassam do norte do território contra cidades de Israel. A invasão levou aos enfrentamentos mais sérios entre os dois lados desde 2004, causando até agora a morte de 74 palestinos e um soldado israelense. Com 23 mortes, ontem foi o dia mais violento desde o início das operações militares após o seqüestro do cabo Shalit em 25 de junho para troca por prisioneiros palestinos.
Em Genebra, o relator da ONU sobre Execuções Extrajudiciais, Philip Alston, enfatizou ontem a importância de que os assassinatos cometidos pelos dois lados em conflito tanto em Israel como nos territórios palestinos não fiquem impunes. ¿Mesmo no meio da crise, e especialmente nessas circunstâncias, é necessário que se respeitem as normas internacionais de direitos humanos e o direito humanitário¿, argumentou Alston num comunicado.