Título: Israel em duas frentes de combate
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Fonte: O Globo, 13/07/2006, O Mundo, p. 30
País diz que captura e morte de soldados por Hezbollah é ato de guerra e bombardeia Líbano
BEIRUTE e JERUSALÉM
Oseqüestro de dois soldados e a morte de oito outros em ataques da milícia xiita libanesa Hezbollah na fronteira com o Líbano levaram Israel ontem a abrir sua segunda frente de combate, fazendo incursões no sul do país vizinho, de onde se retirara em 2000 após 18 anos de ocupação. Forças israelenses realizam ofensivas simultâneas no Líbano e na Faixa de Gaza, o que obrigou o governo a convocar seis mil reservistas do Exército. Numa perigosa escalada das tensões na região, Israel acusou os governos do Líbano e da Síria de cumplicidade no ataque e a aviação israelense bombardeou entre várias pontes, uma a apenas 15 quilômetros de Beirute, a capital do país.
Quatro soldados israelenses morreram em luta com o Hezbollah e outros quatro na explosão de uma mina sob o tanque em que estavam, dentro de território libanês. Segundo o Exército, foguetes foram disparados contra alvos no norte de Israel e a população da região foi advertida a se proteger: quatro civis e seis soldados foram feridos. Em retaliação, a artilharia, barcos e aviões de guerra israelenses martelaram as posições da guerrilha, atacaram estradas para impedir a fuga para o interior do país. Na manhã desta quinta (horário local), a aviação de Israel bombardeou o Aeroporto Internacional Rafic Hariri de Beirute, provocando sérios danos nas pistas. Em outro ataque, o religioso Adel Akkache foi morto com a mulher e oito filhos, em Dueir, no sudoeste do país.
Premier faz ameaça velada à Síria
O Hezbollah anunciou que os dois militares israelenses foram seqüestrados para servirem de moeda de troca por prisioneiros libaneses e palestinos em cárceres israelenses. Um militante do grupo foi morto ao se aproximar de um posto inimigo e dois civis libaneses, no bombardeio do Sul do país, que deixou ainda 25 feridos.
O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, que ontem fez a primeira convocação de reservistas desde 2002, acusou o governo libanês de ser responsável pela situação.
¿ Os acontecimentos não são um ataque terrorista, mas um ato de guerra executado por um Estado soberano contra Israel sem nenhuma justificativa ¿ afirmou Olmert.
O ministro da Defesa, Amir Peretz, fez eco na pressão sobre Beirute.
¿ O governo libanês deu ao Hezbollah a possibilidade de atuar livremente contra Israel e, por isso, deverá assumir a responsabilidade.
O governo libanês negou as acusações de cumplicidade com o grupo xiita. O presidente do Líbano, Emil Lahoud, disse que a ação de Israel põe em perigo a estabilidade da região.
O premier Olmert também abriu fogo verbal contra a Síria, que apóia o Hezbollah e até o ano passado ocupava militarmente o Líbano, mantendo ainda forte influência na política do país. Para ele, a Síria mostra ser ¿um Estado terrorista em sua natureza¿.
¿ É um governo que apóia e alenta atividades assassinas de organizações terroristas, dentro e fora de suas fronteiras. Naturalmente, estão sendo feitos preparativos para tomar as medidas apropriadas contra a Síria ¿ ameaçou ele.
Recentemente, caças israelenses invadiram o espaço aéreo sírio e deram um rasante sobre um dos palácios do presidente Bashar al-Assad, em Latakya, quando ele estava no local. Ontem, Damasco ¿ que dá guarida a líderes do grupo radical palestino Hamas ¿ respondeu às acusações de Olmert, acusando Israel de ser o responsável pelo agravamento da situação no Oriente Médio. Analistas disseram que o Hamas estaria coordenado com o Hezbollah.
¿ A ocupação é o que provoca os palestinos e o povo libanês ¿ alegou o vice-presidente sírio Farouq al-Shara, negando que Damasco tenha tido um papel no ocorrido. ¿ A resistência no sul do Líbano e entre o povo palestino decide sozinha o que fazer e por quê.
A comunidade internacional expressou preocupação com a situação. A Casa Branca condenou o Hezbollah e o exortou a libertar os militares seqüestrados; a secretária de Estado, Condoleezza Rice, pediu moderação. ¿Todos os lados devem agir com comedimento para resolver este incidente pacificamente e proteger vidas inocentes e a infra-estrutura civil¿, advertiu, num comunicado em que também exortou a Síria a usar sua influência para que haja um desfecho pacífico. Fontes do Departamento de Estado disseram CNN que Washington crê que o governo libanês tem pouca ingerência no Sul do Líbano, controlado pelo Hezbollah.
Hezbollah: única opção é seqüestro
O Egito e a Jordânia ¿ países que assinaram tratados de paz com Israel ¿ pediram o fim da escalada de violência. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, condenou ¿sem reservas¿ a invasão do território libanês, mas também pediu a libertação dos soldados seqüestrados. O chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, procurou justificar a captura dos militares.
¿ É a única opção que temos para negociarmos a libertação dos presos libaneses, árabes e muçulmanos, assim como chamar a atenção para o sofrimento dos dez mil presos palestinos em Israel ¿ alegou, acrescentando que os soldados estão ¿em lugar seguro e distante.¿
Em resposta, Olmert descartou negociações sobre troca de presos.
¿ Não negociaremos nem cederemos diante dos terroristas.